Os Amado foram para Campos em 1823, em decorrência dos conflitos que ocorreram no interior da província da Bahia, devido ao processo de Independência, que ficou conhecido como Guerra de Mata-Marotos. No interior da província, mesmo após a expulsão das tropas portuguesas da capital baiana em 2 de julho de 1823, data da Independência da Bahia, o embate se prolonga pelas vilas e povoados de Rio de Contas, Jequié e Caetité. Um dos principais conflitos internos neste período era a indecisão quanto ao destino dos portugueses que ficaram na Bahia. Durante mais de três séculos, o colonizador português veio ocupando e se fixando no interior da Província da Bahia Colonial.    
De acordo com os relatos de vovó Mariana de Faria Amado (1880-1976), que ficou conhecida como Vó Dona, ao longo da vida aos netos, dizia ela que; "
os Amado moravam numa região denominada de Parnamirim do Rio de Contas, próximo a Jequié", no sul da chapada Diamantina, onde a comunidade lusitana era bastante numerosa e o ouro de aluvião fizera a breve riqueza do lugar e continua "como eram portugueses e outros de origem lusa, passaram a ser perseguidos por causa da Independência do Brasil, ainda não ter sido reconhecido pela Província da Bahia, tomando o rumo do norte em direção a Sergipe", numa longa viagem que durou semanas evitando passar por vilas e povoados até atravessarem o Rio Real, se estabelecendo na freguesia do povoado de Campos na Província de Sergipe d'El Rey. 
Segundo Vó Dona contava aos netos, "d
urante a viagem, uma das mulheres Amado deu a mão para uma cigana ler e esta falou que o marido dela iria morrer, não chegaria ao destino. Realmente, ele foi acometido por febres indefinidas e não chegou a Campos". Assim os Amado chegaram a Sergipe por Campos, entre os Amado que chegaram ao Povoado de Nossa Senhora de Campos do Sertão do Rio Real, estava a família do patriarca Barnabé Amado, com a filha Emerenciana de Jesus Amado com dez anos de idade. Barnabé Amado era casado com Nasária Maria Francisca D'Annunciação. Eram duas famílias que casavam entre si, os D'Annunciação e os Amado e que vieram juntas do interior da Bahia. Patrício Luís Amado, filho de Barnabé, era professor e casado com uma prima chamada Ana Joaquina D'Annunciação, filha de um irmão ou irmã de Nasária D'Annunciação, teve uma filha chamada Maria D'Annunciação de Jesus Amado e um filho chamado Pedro Luis Amado que também foi professor. 
          Barnabé se torna capitão e criador de gado na freguesia de Campos, as margens do rio Real, seu nome completo era Barnabé Francisco Amado, conhecido como Capitão Barnabé. Barnabé e Nasária tinham quatro filhos e cinco filhas, Ana Clara, Maria José Amado, Joaquina Carolina, Emerenciana de Jesus Amado, Nininha, Patrício Luiz Amado, Barnabé Francisco Amado Junior, João Francisco Amado e José Francisco Amado. Emerenciana,  filha de Barnabé, casou com João Francisco de Faria, filho de portugueses e nasceram os filhos Boaventura, Juvianiano, Antônio, Maria Francisca, conhecida como tia Sinharinha, Maria D'Annunciação, conhecida como Dodona, João, Francisco, pai de Vó Dona, Ana Joaquina, conhecida tia Pombinha, Pacífico de Faria Amado, se estabelece em São Cristóvão e o caçula José Amado de Faria, avô de Gilberto Amado e de Jorge Amado. 
    Em 1835, o Povoado de Campos vira Vila de Campos e em 1848, Estância foi elevada a categoria de cidade. Os filhos de Emerenciana migram do sertão de Campos para a cidade de Estância a partir de 1850, um importante entreposto comercial que cresce com o comércio de açúcar e escravos com a Bahia. Estância, conhecida como "Jardim do Sergipe", apelidado assim por Dom Pedro II, por ocasião da visita imperial em 1860, a Aracaju e Estância, deixando importante legado, a cidade foi pioneira na industrialização e na imprensa sergipana com a circulação do Recompilador Sergipano na metade do século XIX. Também foi a primeira cidade sergipana a dotar de iluminação elétrica no início do século XX, antes da capital. Os casamentos entre primos e até de sobrinha com tio eram comuns na família a gerações, Vó Dona dizia que eram arranjados pelas tias "velhas" da Rua da Miranga, em Estância. As tias "velhas" Amado, que decidiam com quem as crianças da família iriam se casar.
    Boaventura de Faria Amado, nasceu em 1832 ou 33, era o filho mais velho, "bonito, homem barbadão", segundo Vó Dona, casou com Umbelina do Amor Divino, teve seis filhos, entre eles, tia Otália, dona da Pensão Amado na Rua Capitão Salomão, que casou com seu primo carnal João Pedro Amado, filho de tia Pombinha. Juvianiano de Faria Amado era casado com Melânia Lima, pais de tia Otacília, João Amado de Faria, Maurino, um dos baluartes do Cruzeiro Esporte Clube, Nilo, Oscar, Juviniano e José Heráclito de Faria Lima, engenheiro, construiu a ponte metálica ou inglesa substituindo a antiga ponte do Imperador em Aracaju. Maria Francisca de Faria Amado, Tia Sinharinha, a filha preferida de João Francisco de Faria, casou com Antonio Costa tendo somente um filho, João Antônio Amado Costa. Maria D'Annunciação de Faria Amado, conhecida como Dodona, era uma morena exuberante e rumorosa, teve as filhas Canã, Maria e Dária. Canaã era a enciclopédia da família, sabia de tudo. Francisco de Faria Amado, filho de Emerenciana, foi pai de Mariana de Faria Amado, que ficou conhecida como Vó Dona e tia Mana, que foram criadas por uma escrava e parteira chamada Ingrácia, pois perderam a mãe quando eram crianças. Vó Dona casou aos 12 anos, em 1892, com o primo José Amado Sobrinho, filho de tia Pombinha.
   Ana Joaquina de Faria Amado. filha de Emerenciana, conhecida como Tia Pombinha, nasceu na Vila de Campos em 1842 e casou com 13 anos e teve 13 filhos com seu primo carnal Pedro Luís Amado, filho de um irmão de Emerenciana, conhecido como Professor Patrício Luis Amado, também filho do patriarca Barnabé Amado. 
São filhos de Tia Pombinha com Pedro Luis Amado, os "tios" Manoel que casou com Maria da Glória, pai de Nilza e Nelson Amado, João Pedro Amado de Faria, sepultado em Estância em 1901, Joaquim do Carmo Amado casou com Rosinha, Salatiel, nasceu em 1876, fazia um presépio natalino em casa que encantava qualquer criança, pai de Aurora Amado, conhecida como Dona Lilá, nasceu em 1911, em Canavieiras, viveu 95 anos e Pedro de Andrade Amado, Salatiel saiu de Estância para Salvador com seu irmão Isaac, onde tiveram comércio, uma loja na "Sete Portas", Isaac morreu envenenado pela esposa que tinha um amante, Salatiel não suportando o fato retornou para Estância, tambem eram filhas de tia Pombinha, as tias Maria de São Pedro, nasceu em 1878, Joaquina e Georgina, as três irmãs eram conhecidas como tia Quinha, tia Quiquina e Geó, eram muito queridas pelos sobrinhos e primas, as três viviam juntas na Rua Capitão Salomão, personagens de Estância pelo que representavam, com seus hábitos, a maneira de falar, incutindo na cabeça dos mais jovens certos principios, certos dogmas, de respeitar as pessoas...
E Rachel Amado, avó de Rachel Souto Tavares, Ana de Deus, Mariquinha, Custódia e o caçula José Amado Sobrinho, que nasceu em 1868 e casou com a prima Mariana de Faria Amado, ela com 12 anos em 1892, na Igreja da Matriz. A festa ocorreu na casa dos Amado, na rua da Miranga, atrás da igreja, uma rua larga, quase uma praça.
Seus filhos nasceram a partir de 1892, a ex-escrava Ingrácia fez o parto de Eleonora, primeira filha, conhecida como tia Zé, era alta e com a idade avançada ficou encurvada, Afonso, Tonico, Ana, conhecida como tia Nanita e Jandyra, no verdor dos seus 20 anos, foram para a casa do Pai Eterno, Américo de Faria Amado, pai fora do casamento de José Amado Nascimento, que se tornou contador, fundador do Tribunal de Contas do Estado de Sergipe e membro da Academia Sergipana de Letras, cadeira Gilberto Amado. José Amado Nascimento viveu mais de 100 anos, sendo o primeiro brasileiro homenageado presencialmente em vida pelos Correios com selo comemorativo ao seu centenário de nascimento. No centro administrativo de Aracaju no Tribunal de Contas do Estado funciona a ECOJAN, Escola de Contabilidade José Amado Nascimento.
Coronel Floriano,
década de 50
    Tio Nhô Chico Amado era pai de Aroaldo Amado, contador, nasceu em 1933, Nídia Maria Amado, poetisa, nasceu em 1937 e Chiquinho, Manoel Amado era 
tio Amadinho, viveu no Rio de Janeiro, pai de Luis Claudio, pediatra, Geraldo, Floriano Amado, nasceu em 14 de março de 1907, estudou as primeiras letras em Estância continuando em Aracaju no Colégio do Professor Zezinho, mudando-se para o Rio de Janeiro para seguir a carreira militar, 
se tornou general do exército brasileiro e João de Faria Amado, conhecido como Jofama. Depois o casal Mariana de Faria Amado e José Amado Sobrinho se mudam com os filhos da rua da Matriz para a rua Capitão Salomão, em Estância-SE. 
 Pacífico de Faria Amado, filho de Emerenciana, se estabelece em São Cristóvão e casou com Teresa Montalvão que teve apenas quatro filhos, pois Pacífico morreu muito moço, deixando sua esposa viúva com três filhos e uma filha, e com parcos recursos para criar as crianças, foram tempos difíceis, são seus filhos, José Montalvão Amado, Othoniel Montalvão Amado, Pedro Montalvão Amado e Áurea que não teve filhos. Dona Teresa ao ficar viúva nunca mais tirou o luto, não só na roupa, mas também na convivência, foi uma mulher muito forte e admirada por todos os netos.
 Teresa Montalvão era filha de José Esteves de Montalvão com Ana Maria do Rosário que tiveram cinco filhas e três filhos: Tereza Montalvão, Berila, Rafael, Rozenda, Edwiges, Gabriel, Rosário Montalvão e Candida. Os Montalvão descendiam de Aureliano Montalvão, um filho do Marquês de Montalvão que foi 1° Vice-Rey do Brasil em 1640 e que chegou a pequena povoação de Campos do Rio Real, que então se chamava Freguezia de Nossa Senhora Imperatriz do Rio Traripe dos Campos Reais com o primo e o filho Lopo, com medo de serem descobertos em Salvador onde desembarcaram do Reino de Portugal fugido do pai porque casou escondido.
     Lopo, filho de Aureliano, ao ficar rapaz se apaixonou por Izabel. O pai não consentiu a união, o vigário geral intercedeu a favor de Lopo, relembrando que ele casou escondido do Marquês. Aureliano em resposta dá o consentimento de forma desprimorosa, que Izabel ofendida amaldiçoou a herança do sogro. Com a morte do Marquês, Aureliano entra em contato com os parentes em Portugal, que providenciam cargos no Vice-Reino. Aureliano e seus companheiros vão para Oeiras no Piauí, onde enriqueceram. Lopo e Izabel ficaram em Campos, anos depois, Luiza de Montalvão, neta de Lopo e seu marido souberam do falecimento de Aureliano e da fortuna deixada e resolveram ir buscar, no caminho, o marido de Luiza teve uma hérnia e faleceu. Os demais parentes tomaram o fato como providencial, em consequência da maldição proferida por Izabel e ninguém mais se abalançou a reclamar a herança, que passou para o domínio da Corôa. Luiza de Montalvão era avó de José Esteves de Montalvão, pai de Tereza Montalvão.
Usina Sergipe
    José Montalvão Amado, filho de Pacífico e Tereza, casou com Amália Mesquita, são seus filhos, Paulo, Frieda Amado, Núbia, Ariosto Mesquita Amado e Maria Amália. José Montalvão Amado vende sua participação na Fábrica de Tecidos em São Cristóvão, onde era sócio com seus irmãos Othoniel Montalvão Amado e Pedro Amado e compra em Laranjeiras-SE um engenho de açúcar transformando na Usina Sergipe, berço da família Mesquita Amado, do velho coronel Zé Amado como ficou conhecido.




Álvaro Amado, Bilau
São filhos de José Amado de Faria, filho caçula de Emerenciana, com Maria do Espírito Santo, Melchisedech Amado, nasceu em 1865, pai de Gilberto e Gileno Amado, Augusto Amado, guarda-livros, poliglota, jornalista, escritor e poeta, nasceu em 6 de dezembro de 1878, em Campos, SE, João Amado de Faria, nasceu em 1880, pai de Jorge Amado, Sinhá, José Amado, Laura, Manuel, pai de Carlos, Álvaro Amado, conhecido como Bilau, pai de Dona Diná que viveu 99 anos e Alfredo, filho do segundo casamento de José Amado de Faria. Tio Alfredo casou com a sobrinha chamada Petina, filha de Melchisedech. 
José Amado de Faria
    José Amado de Faria, pai de Melchisedech, era comerciante em Estância, nascido na Freguesia de Campos do Rio Real, em 1843, atual município de Tobias Barreto, de quem foi amigo do poeta e filósofo na segunda metade do século XIX. Tobias Barreto nasceu em 7 de junho de 1839, mestiço de origem modesta, aos 15 anos já era professor de latim, na cidade sergipana de Campos. Advogou bons anos no interior de Sergipe, escrevendo em jornais de curta vida, vários fundados por ele mesmo. 
 Em 21 de fevereiro de 1895, morre Emerenciana de Faria Amado, quando Gilberto Amado tinha menos de 7 anos de idade. Gilberto recorda dos bisavós em "História de Minha Infância", “Guardo memória de todos e quase todos por seu pitoresco me fazem sorrir. Ainda alcancei o velho Faria. Davam-lhe cem anos, andava decerto por aí. Deixava ele a Rua da Miranga, onde morava, para passar tempos, longe da velha Merência, em casa de Sinharinha, a filha preferida”, e continua "Gente que honra o fato de viver e em viver se compraz. Raiz robusta, enseivada em boa terra, a terra do Brasil", conclui o memorialista que nasceu em 9 de maio de 1887. O avô José Amado de Faria, depois se muda de Estância e se estabelece em Itaporanga, acompanhando o filho Melchisedech até o fim da vida em 1925.
A partir de 1867, intensificou-se a ocupação da região sul da Bahia, principalmente migrantes sergipanos, dentre os quais se destacam Félix Severino de Oliveira e José Firmino Alves, que eram primos. Conhecido como Félix do Amor Divino fundou, na entrada de Itabuna, a Fazenda Marimbeta. Eles vieram do Sergipe da Chapada dos Índios, atual Cristinápolis. A eles, se atribui a fundação da futura cidade de Itabuna, onde os coronéis do cacau tomavam o lugar que antes pertencera aos senhores de engenho. Contingentes de desbravadores de terra, muitos sergipanos, penetram pela inóspita Mata-Atlântica e abrem suas roças. Os índios também viviam nessa região, a resistência deles sempre foi uma dificuldade para a penetração do colono. A partir de 1890, houve uma verdadeira corrida para a ocupação das terras, sergipanos e pessoas fugidas da seca do nordeste, em dez anos a população cresceu de uma forma explosiva, vieram pessoas buscando o eldorado. 
João Amado de Faria
 Em 1902, entre os Amado que saíram da civilizada cidade sergipana de Estância, para aventura de desbravar com tantos outros a região do cacau 
estavam os filhos de José Amado de Faria: Álvaro Amado, cujo apelido era Bilau e João Amado de Faria que casou com Eulália Leal, irmã do amigo Firmino Leal e mais conhecida na família como Lalu, tiveram os filhos numa roça de cacau chamada Auricídia, no atual bairro de Ferradas, em Itabuna que na época era distrito: Jorge Amado nasceu em 10 de agosto de 1912, Jofre, falecido aos três anos de gripe espanhola, Joelson e James Amado em 1922. 
Acervo: Diná Amado
Álvaro Amado, irmão mais moço de João Amado, seguiu-lhe o exemplo, ainda adolescente saiu de Sergipe e se estabeleceu para as bandas de Sequeiro do Espinho onde nascia um povoado que se chamou de Pirangi, hoje cidade de Itajuípe. Se tornou fazendeiro, comerciante, sempre risonho e alegre, onde chegasse trazia animação e festa, tinha hábitos curiosos e moral própria, de personalidade sedutora, casou com Jucundina, mulher pioneira, a primeira a dirigir um automóvel entre Itabuna e Ilhéus, são seus filhos Gumercindo, Godimberto, Álvaro e Guttemberg e as filhas Dagmar, Dinorá, nasceu em 1915 e Diná Amado, que viveu 99 anos e foi estilista no Rio de Janeiro da esposa de San Tiago Dantas. Álvaro Amado, um coronel dado a malandragens, numa viagem a Itaporanga, "descobriu" uma água anunciada como milagrosa, carregou dois latões na bagagem de volta e passou a vender cada copo de água a cem réis, sob protesto de seu irmão, sua única atividade exercida com constância era o pôquer nas salas de jogatina do hotel Coelho.
Fausto Cardoso
           Com a Proclamação da República, Sergipe passou a ser Estado da Federação tendo sua primeira Constituição promulgada em 1892. O quadro permanece assim em todo o primeiro período republicano, com setores das camadas médias urbanas sendo as únicas forças a enfrentar a oligarquia local, como na Revolta de Fausto Cardoso. Em agosto de 1906, Fausto Cardoso, que havia sido eleito deputado federal com expressiva votação, lidera uma revolta popular e depõe o presidente do estado Guilherme Campos. 
               Do prédio da Alfândega onde se recolhe junto com seu irmão, o senador Monsenhor Olímpio Campos, conhecido como padre perereca, chefe da oligarquia sergipana, telegrafam ao Presidente da República, Rodrigues Alves, informando a desordem popular. O Presidente então ordena que enviasse a Aracaju um dos batalhões estacionados na Bahia. Revolta controlada, Fausto Cardoso da escadaria do Palácio com insultos a tropa leva um tiro. Coberto de sangue, Fausto pede água e sussurra agonizante antes de morrer "Bebo à alma de Sergipe". Em 9 de novembro do mesmo ano, os dois filhos de Fausto Cardoso vigam a morte do pai, assassinando o padre e senador Olímpio Campos na Praça XV, no Rio de Janeiro com duas facadas e onze tiros, episódio que ficou conhecido como a "tragédia de Sergipe". 
Donana, 84 anos, 1955 
      Durante a Revolta de Fausto Cardoso, em Itaporanga d'Ajuda, os adversários de Melchisedech Amado, filho de José Amado de Faria, conhecidos como os "pebas" se agitavam em torno da figura de Firmino Barreto, a vila fervia e Melk preocupado, evitou provocações até que Donana, grávida, recebe um bilhete de um capanga de Firmino. Pressentindo o perigo e sem contar sobre o bilhete, ela convence o marido a ir para a capital apoiar o presidente deposto. Violências e saques ocorrem em Aracaju e cidades vizinhas. Após o desfecho da rebelião, coronel Melk, como era conhecido, retorna a cavalgada com seus correligionários para Itaporanga, onde Donana conta a verdade. 
Estância 
    Ana de Lima Azevedo Sousa Ferreira, conhecida como Donana, ou "a mocinha do sobrado", onde vivia com os avós paternos em Estância, já que a mãe viúva não tinha condições de criá-la, casou com 15 anos com Melchisedech Amado de Faria, ela nasceu em 1870, mãe de Gilberto de Lima Azevedo Sousa Ferreira Amado de Faria, que nasceu em 1887 quando Donana tinha apenas 16 anos. 
Donana foi mãe de quinze filhos, todos iniciados com a letra G, menos Petina e Mimi. Após ter sido alfabetizado pela mãe em Itaporanga, Gilberto Amado ingressou no Ateneu Sergipense, onde iniciou os estudos preparatórios em Aracaju onde morava na casa do governador.
Melchisedech Amado
  Melk nasceu em 1865 em Estância, era comerciante, usineiro e chefe político dos "cabaús" em Itaporanga D'Ajuda, facção que tinha o apoio do Governo Estadual, sob a oligarquia do Monsenhor Olímpio Campos. Melk gerenciava a Usina Belém de propriedade de Felisbelo de Oliveira Freire, padrinho de Gilberto Amado. Felisbelo foi médico, jornalista, músico e político, primeiro governador de Sergipe na República em 1890 e ministro das finanças do presidente Floriano Peixoto em 1894. Deste casamento de Melchisedech Amado e Donana, originou-se um seleto grupo de escritores e professores. Ao casar, Melk com 19 anos e Donana com 15 anos, fez questão que a sogra Maria Rosa de Lima, a Mãequinha fosse morar com eles. 
   Em Estância nasceram Gilberto, primogênito, nasceu em 1887Gileno em 1891, Iaiá era Gildete, Pergentina conhecida como Petina e  Gentil, nasceu em 31 de julho de 1896. A família se transfere em 1896 para Itaporanga D'Ajuda e lá nasceram Maria Zulmira era Mimi, Genoline, falecida antes de completar sete anos, Genolino nasceu em 3 de agosto de 1902, Gildo, Gillete, Gildásio nasceu no dia 30 de agosto de 1906, Gilson nasceu em 1908 e Genne Amado. Em Aracaju, nasceu o caçula Gennyson e Giuseppe nasceu em Estância em períodos de "tempos fora". A família cresce entre Itaporanga e Aracaju. A única filha que teve filhos foi Petina, em compensação foram 12 filhos, casou com seu tio Alfredo, meio-irmão de Melchisedech, filho de José Amado de Faria com a segunda esposa.
     Em 1904 com 17 anos, Gilberto Amado já colaborava nos jornais Estado de Sergipe e Folha de Sergipe, onde começou como jornalista. Concluindo os estudos em Aracaju, em 1905, Gilberto Amado foi estudar direito em Recife. Em 1907 passou a escrever para o Diário de Pernambuco onde foi redator assinando a coluna "Golpe de Vista". Assis Chateaubriand, contemporâneo da Faculdade de Direito, estreava no jornalismo com quinze anos de idade no veterano Diário. O tímido Chateaubriand ao ser apresentado a Gilberto Amado apenas apertou-lhe a mão e pronunciou duas ou três palavras gentis. Ao afastar-se, Chateaubriand ouviu do jovem polemista perguntar: "Quem é esse magrelo elétrico que parece um calango assustado?". 
 O Diário de Pernambuco fundado em 7 de novembro de 1825, sendo hoje o jornal mais antigo em circulação na América Latina e do hemisfério sul do planeta, foi comprado em 1901, por Francisco de Assis Rosa e Silva, o "Conselheiro", na época vice-presidente da República de Campos Sales. O poder de Rosa e Silva era tamanho que se costumava dizer que "quem tem Rosa tem o Norte do Brasil, sem Rosa ninguém se elege, contra Rosa ninguém governa". Sobre Rosa e Silva, Gilberto Amado, dizia tratar-se de "um dândi de olhos de azul intenso, riscados por um piscar contínuo, que fuzilavam secos. De seu rosto, rodeado de barba crespa castanho-claro, bem tratada, emanava dignidade".
   Em 1908, Gileno Amado, ainda estudante de Ciências Jurídicas da Faculdade de Direito de Recife, com 17 anos, filho de Melchisedech Amado, nascido em Estância se estabelece em Itabuna, se ligando a Olinto Leone, que se tornou emancipador de Itabuna, que foi distrito de Ilhéus até 1910. Gileno concluiu o curso na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, em 1911, e logo depois retornou a Itabuna para ocupar o cargo de Delegado Escolar, depois de indicado pelo então governador J.J. Seabra. A região não parava de crescer, a lavoura do cacau, já era considerada a mais importante do mundo. Nesta época começaram a construir belos edifícios em Ilhéus. Em 1907 foi inaugurado o Palácio Paranaguá e o Paço Municipal, construção de inspiração neoclássica, um dos edifícios públicos do Estado mais luxuosos e melhor decorados e mobiliado.
Em 1909 na Faculdade de Direito do Recife, Gilberto Amado formou-se em segundo lugar da turma ficando em primeiro lugar Mário Rodrigues, pai de Nelson Rodrigues e Mário Filho, que teve como prêmio uma viagem a Argentina e Chile. Viajou como advogado mas visitou jornais e revistas de Buenos Aires e Santiago fazendo amigos. Na volta fundou com Dantas Barreto, o "Jornal da República". Dantas Barreto foi político-militar que participou das Guerras do Paraguai e de Canudos.
Em 1910, Gilberto Amado desce para o Rio de Janeiro como uma revelação. João do Rio do Gazeta de Notícias, recém eleito para a ABL aos 29 anos, afirmou que uma conversa com Gilberto Amado "dá duas horas de vibração e de elegância mental", apresentando ao Ministro da Indústria, Comércio e Agricultura Rodolfo Miranda como "um gênio". Sem conhecê-lo, João do Rio elogiou uma crônica sua em O Paiz. Gilberto Amado foi nomeado aos 23 anos professor de Direito Criminal na Faculdade de Direito de Recife em maio, desaparecendo da cena carioca.
Um acordo entre São Paulo e Minas Gerais perdurou até 1909 quando houveram as eleições presidenciais, que foi a primeira efetiva disputa eleitoral da vida republicana. O marechal Hermes da Fonseca, sobrinho de Deodoro, saiu candidato com o apoio do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais e na oposição saiu candidato o senador liberal Rui Barbosa, o "Águia de Haia" que encabeçou a campanha civilista com o apoio de São Paulo fazendo aliança com a Bahia, mas foi derrotado. A vitória de marechal Hermes produziu grandes desilusões na restrita intelectualidade da época. A estrela do Rio Grande do Sul passou a brilhar na política do "café com leite" a partir de 1910 associado ao nome do senador Pinheiro Machado que se projetava no plano nacional e se tornou a maior estrela da política brasileira na década de 1910.
O caudilho gaúcho Pinheiro Machado garantiu o pacto conservador da República Velha até o seu assassinato em 1915. Pinheiro Machado, conhecido como o "senador de ferro" intrigava Gilberto Amado, para quem, "podia simpatizar com o homem, mas não com o político". O senador vivia no palacete do Morro da Graça em Laranjeiras, onde era comum a recepção do senador com a presença de políticos e oficiais generais. Pinheiro Machado queria conhecer Gilberto Amado pessoalmente, pois conhecia seus artigos em O Paíz, jornal favorável a Pinheiro Machado. Em 1911, Amado foi agradecer ao leitor eminente a simpatia que Pinheiro Machado manifestava através de João Lage, diretor do jornal e foi recebido neste palacete por Pinheiro Machado e sua esposa Nhanhã.
Gilberto Amado estava bastante nervoso, seria seu primeiro contato com o senador, era manhã de sol no começo do ano, já arrependido, subiu a ladeira, quando se aproximou da casa, Pinheiro Machado se despedia de alguns visitantes e se preparava para fechar a porta, quando perguntou sem conhecer Gilberto Amado, "O que quer?", Gilberto respondeu: "Isto é modo de receber alguém?" e deu as costas, o senador o segurou pelos ombros com as mãos firmes e perguntou, "Quem é Vosmecê?". Gilberto disse que ele queria conhecê-lo e o senador foi o levando para dentro admirado, "Tão pequenino! Entre! Venha!". A partir desse primeiro encontro, foram frequentes as visitas, que Gilberto Amado sempre recordou com saudade e tornou-se grande amigo do senador frequentando assiduamente o Morro da Graça. A convivência entre Amado e Pinheiro Machado estendeu-se com certa intensidade e Gilberto Amado passou a ser protegido de Pinheiro Machado até o seu assassinato.
Diário de Pernambuco 
Nas eleições estaduais de 1911, o Diário de Pernambuco divulga a vitória de Rosa e Silva, proprietário do Diário, contra o candidato militar Dantas Barreto, apoiado pelo Presidente Hermes da Fonseca, e sócio de Mário Rodrigues no Jornal da República, por uma margem pequena de votos. Os partidários de Dantas Barreto não se conformaram com o resultado das urnas e o Recife passou por um dos momentos mais violentos e sangrentos, que convergiram para a paralisação dos bondes, o fechamento de cinemas e casas comerciais, e o grande temor da população em sair às ruas.
O Diário sofreu com a fúria da revolta em protesto contra a vitória do candidato Rosa e Silva, proprietário do jornal, tendo o empastelamento de suas rotativas, jornais queimados e rasgados e depredações da sede. O tradicional "Diário de Pernambuco", cuja circulação ficou interrompida por onze meses, até 26 de janeiro de 1913, sofreu um grande prejuízo. Gilberto Amado não se encontrava na sede do diário, mas o jovem Assis Chateaubriand teve que se trancar numa das salas armado de rifle para se defender da multidão enfurecida, demonstrando sua coragem, ao opor-se às violências cometidas contra o "Diário de Pernambuco". Era época do "Dantismo", do General Dantas Barreto, que governou Pernambuco de 1911 a 1915.
Nesse mesmo ano de 1911, Gilberto Amado casou com Alice do Rego Barros Gibson, nascida em 1897, irmã de Thomé Joaquim de Barros Gibson que era muito amigo de Gilberto Amado. Thomé era proprietário do periódico Jornal Pequeno, de grande circulação na capital de Pernambuco, durante a primeira metade do século XX. Seu jornal circulava nas principais cidades do país e em Lisboa. Os pais de Alice e Thomé eram Alfred Gibson e Francisca Adelaide do Rego Barros Gibson.
Alfred era filho de Henry Gibson, um imigrante inglês e anglicano, que se estabeleceu no Recife com 20 anos e fez fortuna com importação de tecidos e exportação de açúcar, casou com Alexandrina Rosa de Oliveira, pernambucana, católica, filha de portugueses em 1842 e constituíram numerosa família em Recife com dez filhos, Foi proprietário de um dos casarões mais bonitos da cidade. O casarão deles em Recife foi desapropriado e virou o Parque 13 de Maio. Entre os membros dessa família está o político Nilson Gibson. A mãe de Alice e Thomé, Francisca Adelaide do Rego Barros era de família tradicional em Pernambuco e o tio, Francisco do Rego Barros, o conde da Boa Vista, foi um grande governador de Pernambuco. Os Rego Barros são indivíduos bonitos, eram morenos, mas não tem origem com os negros africanos e sim, com os muçulmanos do norte da África.
Em 1912, Gilberto Amado parte para a Europa com Alice, seguiu como correspondente, tendo o primeiro contato com o Velho Mundo, tão bem retratado em "Mocidade no Rio e primeira viagem à Europa" de 1956. Alice do Rego Barros Gibson teve com Gilberto Amado, as filhas Anna Gibson Amado em 14 de fevereiro de 1913 e Vera Gibson Amado em 30 de dezembro de 1913 e o filho Frederico Gilberto Amado em 1915. Anna tinha o apelido de "Lou" na família. Anna nasceu em Recife e Vera no Rio de Janeiro, diziam que Vera e Anna se pareciam muito com a mãe Alice.
A educação dos filhos de Gilberto e Alice, se deu em Petrópolis por dois anos, Vera e "Lou" internas no Sion e Frederico no São Vicente. Tão pequeninos ainda, era um suplício para Gilberto Amado vê-las apenas uma vez por semana, lá em cima na serra, e resolveram se mudar para o Rio de Janeiro, numa grande casa na Av Atlântica em Copacabana, nada de colégio, colocaram professores em casa, além da francesa que já moravam com eles, arrumaram uma inglesa e uma russa. Nessa casa de propriedade de um português, dono de uma fábrica de sapatos, ficaram três anos, o aluguel caro obrigaram se mudar para a rua nova atrás da Av Atlântica.
A mania das conferências no Brasil foi a primeira década do século XX, após o gênero entrar em moda em Paris e se multiplicar por toda parte. As conferências remuneradas, a dois mil réis a entrada enchia-se de senhoras e de homens, para ouvir Coelho Neto, Olavo Bilac, Afonso Arinos entre outros no Instituto Nacional de Música que abrigou grande parte do êxito das conferências literárias de maiores sucessos. A conferência de Gilberto Amado no salão do Jornal do Comércio, a 9 de agosto de 1913, sobre o tema: "A chave de Salomão", lançado em livro ano seguinte, legou-se uma das páginas mais notáveis da história das letras.
A sedução de Paris nunca exerceu tão forte influência sobre a vida literária brasileira quanto no período de pré-guerra 1914, quando o próprio cinema vinha em boa parte da França. Não era de se admirar já que a influência de Paris sobre o mundo europeu e ocidental nessa época a tornara o centro de atração da humanidade o maior empório de prazer do planeta. Paris era o destino. O chique era ignorar o Brasil e delirar por Paris. João do Rio, Luís Edmundo e Gilberto Amado todos cumprem essa romaria. Uns voltam logo, outros por lá ficam meses e até anos. Gilberto Amado costumava dizer "Uma rua de Paris é um rio que vem da Grécia" e "que todos nós temos duas pátrias, a nossa e Paris", talvez inspirado em D.Pedro II que escrevera em francês em seu diário de viagem ao Alto Nilo entre 1871-72, que tinha duas pátrias: a do nascimento e a do coração (França).
Um incidente mostra o clima entre os literatos pró e contra Pinheiro Machado, eis o motivo do ataque a Gilberto Amado: no diário "O Paiz", de 23 de setembro de 1913, Gilberto publicou uma crítica em artigo onde destruía as poesias do livro "Elogios e símbolos" de autoria de Lindolfo Collor, neto de colonos alemães, filho de um sapateiro de São Leopoldo, avô de Fernando Collor e o romance de Eloy Pontes. Na tarde do mesmo dia, os dois encontraram o jornalista Gilberto Amado passeando pela Av Central com João do Rio e investiram aplicando bengaladas contra o crítico sergipano, que reagiu à agressão com tiros de revólver. Nas primeiras décadas do século XX, a vestimenta masculina do dia-a-dia era o terno (calça, paletó e colete), além do relógio de bolso, lenços, chapéus, calçados bicolores, polainas, suspensórios, luvas e bengalas até entre os jovens, simbolizava maturidade e as vezes usado como arma para defesa ou agressão. As balas não atingiram Lindolfo, mas furaram a parede da famosa Livraria Garnier ponto de encontro de intelectuais e políticos da capital da República, o embate se deu na altura da prestigiada Rua do Ouvidor. Collor empurra Gilberto, que sempre andava armado, que cai no chão já disparando dois tiros para o alto afugentando os brigões. E por sarcasmo do destino, o agressor e o agredido se tornaram deputados federais na mesma legislatura, exercendo mandatos sob o mesmo teto, entre 1922-26. Esta mania de criticados tentarem agredir o crítico armado leva as consequências gravíssimas dois anos depois, seu gênio violento o levou a matar o poeta gaúcho Aníbal Teófilo.
Av. Atlântica
com Rua Figueiredo Magalhães
Após anos de colaboração na imprensa, especialmente em periódicos como o Diário de Pernambuco, A Época, Jornal do Comércio, A Imprensa e O País, em 1914, Gilberto Amado estréia em livro com "A chave de Salomão e outros escritos". Neste mesmo ano, Afrânio Peixoto convence Gilberto Amado a disputar uma cadeira na ABL na vaga aberta em abril com a morte de Heráclito Graça. Foi marcado um almoço de apoio à sua candidatura à ABL, ocorrido no restaurante Assírio do Teatro Municipal, onde compareceram diversos intelectuais entre outros João do Rio, Cândido de Campos, Elói de Souza, James Darcy, Celso Bayma, Amarílio de Vasconcelos e o jovem Souza Dantas, então secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores.
Este seu círculo de amizades se perdura pois se encontravam quase todos os dias entre 1916 e 1917. Na bela casa imortal de James Darcy, o castelinho normando construído pela família Guinle, esquina da rua Figueiredo Magalhães com avenida Atlântica, atual ed. Camões em Copacabana se encontravam todos os domingos. A eleição na ABL foi em agosto, o outro candidato o psiquiatra Antônio Austregésilo venceu. Os acadêmicos divididos mais uma vez serão sensíveis a influências políticas do que literárias, assim a eleição se polarizou entre um candidato pinheirista, Amado e um antipinheirista, Austregésilo, justo no momento em que Pinheiro Machado era atacado por todos os lados, sua influência no entanto impediu a eleição para ABL de Dom Luiz de Bragança, o príncipe herdeiro um ano depois. Após a estréia em livro, se seguiriam os poemas de "A suave ascensão ", em 1917, e os ensaios de "Grão de areia" e "Aparências e realidades" em 1919 e 1922, respectivamente.
Gilberto Amado era um crítico impiedoso e temperamental. Passou a ser constantemente agredido e discriminado. Notadamente por ter censurado Coelho Neto, Aníbal Teófilo, do grupo de Coelho Neto, conhecido como a "República de Laranjeiras", passou publicamente a ofender, ameaçar e hostilizar Gilberto Amado. Numa dessas ocasiões na redação da Gazeta, Aníbal não só recusou-se a cumprimentar Gilberto como disse aos berros "Saia daqui ou cuspo-lhe na cara", cuspindo em seguida no chão, se tornando o grandalhão Aníbal, seu inimigo figadal.
Gilberto Amado tinha um medo terrível do Aníbal Teófilo, cada vez que ele encontrava, Aníbal arrumava um jeito de agredir, cuspia e dizia que todas as vezes iria fazer isso, porém Gilberto criticava severamente a poesia deste em sua coluna no jornal O Paiz, em sérias polêmicas literárias, onde falar mal da obra alheia equivalia a ofensa gravíssima, pessoal e moral. No dia 19 de junho de 1915, a recém-fundada Sociedade Brasileira de Homens de Letras realizava no salão nobre do Jornal do Comércio sua primeira reunião pública, com a presença de Olavo Bilac, Coelho Neto e Aníbal Teófilo. Ao final da sessão literária, quando Gilberto Amado, já eleito deputado federal por Sergipe acompanhado da esposa Alice grávida de Frederico, de um irmão e do advogado gaúcho Paulo Hasslocher encontram Aníbal, este faz gestos desabonadores para Gilberto.
O público que, concorrendo a hora literária no Jornal do Comércio ouviu Aníbal Teófilo recitar seus últimos versos, 20 minutos antes de ser assassinado pelo dr.Gilberto Amado.


Paulo Hasslocher e Gilberto
 Amado, cabisbaixo, sendo
 autuado flagrante
Paulo Hasslocher, maluco e briguento, tomou as "dores" e foi o primeiro a agredir Aníbal e se atracaram quando Gilberto sacou sua pistola Mauser disparando três tiros acertando um em Aníbal na nuca, foi a morte do poeta. No Correio da Manhã, a manchete era "Um crime revoltante. O deputado Gilberto Amado mata, calma e friamente, o poeta Annibal Theophilo, o povo no auge da indignação tenta linchar o criminoso. Contra o assassino não obstante a proteção política que o cerca foi lavrado auto de flagrante. Os pormenores da triste cena de uma tragédia emocionante que abala profundamente nossa sociedade. Trágico fim de uma bela tarde". Paulo Germano Hasslocher, também conhecido como o Golias das Campinas do Sul, identificado germanófilo, defensores da cultura e tradições alemã do sul do Brasil, em 1922, apareceu no noticiário policial, por ter atirado num garçom espanhol em Petrópolis que se recusará a atendê-lo no restaurante do Palace Hotel, pois já estava fechando. Era um dandi rivalizando com João do Rio, só era visto na Av Central de fraque, cartola, gravata plastrom, polainas, monóculo e luvas.
Correio da Manhã 
Entre 1918 e 1929, Paulo Hasslocher foi proprietário do periódico ABC, atuou na ABI e participou da política do Rio Grande do Sul, sendo próximo de Getúlio quando este ainda era presidente do estado depois entrou para a diplomacia na década de 30 servindo na embaixada de Washington como chefe do serviço de inteligência, passando informações secretas a Vargas. Manoel Hasslocher, irmão de Paulo, foi um dos mais ativos militantes entre os camisas-verdes da Ação Integralista Brasileira, sendo editor da revista "Anauê!" e era muito amigo de Benjamin Vargas, irmão de Getúlio. O público que, concorrendo a hora literária no Jornal do Comércio ouviu Aníbal Teófilo recitar seus últimos versos, 20 minutos antes de ser assassinado pelo dr.Gilberto Amado, a tiros de revólver, após o crime, os presentes no salão, comandado por Coelho Neto, avançaram sobre o assassino que escapou por uma porta lateral, sendo preso em seguida, sem usufruir das imunidades de parlamentar, no Quartel de Cavalaria da Polícia Militar até o julgamento sendo libertado no início de julho de 1916 depois de ser absolvido, sob a argumentação de que havia sido provocado primeiro.
Perfume Idéal 
Olavo Bilac que era um homem vaidoso, recusava-se a posar de frente para fotografias, por causa de um defeito que tinha na vista aparecendo assim sempre de lado, dias antes, previu a morte do poeta gaúcho Aníbal Teófilo, na casa de Alexandre Lambert Guimarães, durante jantar, Bilac teve uma visão, cruzando os talheres, se sentiu indisposto, ao final revelou que viu Aníbal cair ensanguentado naquele canto da sala. Os pactos fúnebres estavam em voga no Rio. Seus colegas de saraus haviam pactuado que o primeiro deles a morrer deveria ter o peito banhado com gotas do perfume francês Idéal da marca Houbigant dentro do caixão. O príncipe escolhido pela revista Fon-Fon dos poetas brasileiros, Olavo Bilac, foi ao velório para atender ao último pedido do assassinado, espalhar sobre seu corpo no caixão o tal perfume. A morte de Teófilo fez desaparecer das perfumarias os estoques de Idéal, por muitos anos o Idéal tornou-se o perfume da moda entre os intelectuais do Rio em 1915.
Cortejo do corpo de Aníbal 
O corpo de Anibal saiu para o necrotério da polícia para autópsia e seguiu para a Sociedade Sul-riograndense na Av Central, que patrocionou o velório, seguindo cortejo ao cemitério de São Francisco Xavier no Caju. O enterro reuniu Ruy Barbosa, Olavo Bilac, Coelho Neto, Graça Aranha, Alcides Maya, Oscar Lopes, Alberto de Oliveira, Raul Cardoso, Martins Fontes, Heitor Lima, Gregório Fonseca e Raul Pederneira e a direção do cemitério precisou intervir para que o funeral do poeta não se transformasse numa festa.
A escolha e a votação não dependem, grande parte das vezes, do candidato nem do eleitorado: os chefes políticos indicam os seus preferidos, havendo casos em que os Estados pequenos são obrigados a ceder vagas para candidatos que têm a simpatia do governo federal. A indicação de Gilberto Amado é um exemplo, por influência de Pinheiro Machado, Gilberto Amado foi eleito deputado federal. O anúncio de sua escolha dá-se no Morro da Graça, residência do famoso político gaúcho na presença do oligarca de Sergipe, coronel Oliveira Valadão. No dia marcado, logo que sentaram à mesa, Pinheiro Machado com aquela voz característica inesquecível, disse: "Valadão, exponha a este pernafina o que acabamos de conversar...", tinha sido decidida a entrada de Gilberto Amado na chapa para deputados federais na eleição que se processaria poucos meses depois.
A percepção política de Pinheiro Machado levou a tentar evitar choques com São Paulo, a fonte de seu poder se encontrava no controle da Comissão de Verificação de Poderes do Senado, que manejava a representação do Nordeste, cujos Estados se tornaram satélites da política gaúcha, por algum tempo reuniu as oligarquias em um "partido nacional", o Partido Republicano Conservador, fundado em novembro de 1910, mas sua ação complicava a composição de forças das duas maiores oligarquias, que levaram São Paulo e Minas Gerais a evitar novas dissensões num pacto não escrito que foi concluído em 1913 e o prestígio de Pinheiro Machado passou a declinar.
As manhãs no Morro da Graça, era um desfile de deputados e senadores, se acercando de Pinheiro Machado, sentado de pernas cruzadas, apertando um cigarro de palha. Muitos iam ali duas, três vezes, ficavam em pé pelos cantos, esperando o sinal de cabeça, para se aproximarem, outra vez partiam, sem ter chegado a um metro de distância do senador, ou entrar no seu raio visual, onde o anfitrião ignorava completamente. O senador gostava de receber amigos e políticos para o almoço e as vezes para o jantar. Era sempre um acontecimento da boa gastronomia, depois das conversas muitas vezes sussurradas, vividos por ilustres visitantes, chegava a hora da boa mesa. Pinheiro Machado sentava-se à cabeceira e a esquerda Nhanhã, o lugar de honra era ao lado dela, e o convidado principal ao lado do senador com quem ele deveria se entreter durante a refeição.
Para Gilberto Amado, Pinheiro Machado tinha uma visão completa do Brasil e dos brasileiros, cujo seio vivera, tratando com pessoas diferentes, de estadista ao tropeiro, ouvindo opiniões, os desejos, as crenças, as afinidades, por onde vinham e aquela que queriam seguir, era respeitado pelo rigor que sempre dedicou aos interesses do país. Pinheiro Machado aos 14 anos fugiu da Escola Militar para alistar-se entre os voluntários na Guerra do Paraguai, às escondidas dos pais, seguiu para o campo de batalha, sem o consentimento das autoridades. Voluntário da Pátria, Pinheiro Machado, foi proclamado primeiro cadete, e depois de um ano e meio de serviço duro, participando com brilho nos confrontos de cavalaria, foi promovido a alferes.
Pinheiro Machado
O seu assassinato foi
em 8 de setembro de 1915 no saguão do Hotel dos Estrangeiros no Flamengo, na capital da República. Apunhalado pelas costas, o crime gerou enorme comoção nacional, meses antes em entrevista ao João do Rio, previra sua própria morte, afirmou "morro na luta, matam-me pelas costas". Pinheiro Machado se destacou pelo estabelecimento da República no Brasil, tendo sido um dos políticos mais influentes da República Velha, mantendo uma importante liderança política nacional até a sua morte, era conhecido como "o condestável da República" e símbolo da "política dos governadores". Com sua morte, o Partido Republicano Conservador praticamente desapareceu, assim como a casa do Morro da Graça que serviu de residência de Pinheiro Machado desde 1897, morreu, com os momentos inesquecíveis do convívio e da camaradagem, ali Pinheiro Machado reinou como a grande figura da República brasileira e a casa foi um dos principais pontos de debate e de decisão da vida política do Brasil.
Isadora Duncan foi a primeira mulher a ficar nua em Ipanema, a americana chegou ao Rio em agosto de 1916, onde se apresentou no Teatro Municipal numa turnê que passou antes por Buenos Aires e Montevidéu. Aos 38 anos, não era mais uma celebridade, era uma lenda, inventara a dança moderna, era uma modernista radical, na dança e no comportamento. No Rio seu cicerone foi João do Rio, de quem foi amante, muito querido pela mocidade carioca, onde segundo Isadora todos pareciam poetas. João do Rio a recebeu diversas vezes em seu casarão, na av. Gomes Freire, na Lapa, onde foi apresentada a intelectuais como Gilberto Amado. Desfilou pela rua do Ouvidor com o poeta, seguidos pela rapaziada, onde ouviu aos gritos "Viva Isadora Duncan! Viva o poeta João do Rio!".
Mas, como contaria depois João do Rio, foi Isadora quem lhe apresentou o Arpoador, era normal que em 1915, João do Rio, um cidadão do centro da cidade nunca tivesse ido para os lados de Ipanema, a orla terminava na igrejinha, no futuro forte de Copacabana, foi Isadora Duncan que revelou o Arpoador para João do Rio que em crônica descreveu como uma "paisagem lunar". Mas foi Gilberto Amado com 27 anos, três anos antes que teve o mérito de ter sido o descobridor literário do Arpoador em "A chave de Salomão", que começa com uma visão retumbante do Arpoador: "pedra heróica que se prolonga nas águas, numa audácia de promontório". Foi numa manhã de julho, sob o céu de soneto, que o escritor Gilberto Amado, como se fosse "o super homem de si mesmo", tirou o chapéu, deixou que o vento lhe desbaratasse a cabeleira, com o mar as suas botas, julgou ouvir estrofes erguendo-se das ondas.
             Em Itabuna, Gileno Amado fundou o jornal "A Época”, em 1917, um jornal que circulou até 1958 na Bahia. Gileno Amado foi vereador de 1913 a 1924, e eleito em 1923 para presidir o Conselho Municipal, onde também exerceu o cargo de Intendente Interino de 13 de janeiro a 2 de março de 1924, eleito deputado estadual em 1924, sendo líder dos governadores J.J.Seabra e Góis Calmon. Após ter se casado com o Dr. Gileno Amado em 15 de julho de 1920, que na época exercia a profissão de advogado, Amélia Tavares, filha do coronel Misael Tavares, considerado o maior produtor de cacau do mundo, teve duas filhas Maria Célia Tavares Amado em 2 de setembro de 1921 e Neda Amado, em 27 de março de 1923. Maria Célia Tavares Amado, se destacou como artista plástica e pintora da primeira geração modernista na Bahia na década de 50.
            A aliança entre Gileno Amado em Itabuna e Antônio Pessoa em Ilhéus arregimentando forças para o retorno ao executivo estadual da Bahia de José Joaquim Seabra em 1920, consolida o grupo político de Gileno Amado, ligado as letras e ao meio urbano em oposição aos antigos coronéis das áreas rurais. A campanha eleitoral na Bahia desenvolvera-se em um clima de extrema violência. Com a vitória de J.J. Seabra, no pleito de 29 de dezembro, cuja eleição impugnava como fraudulenta, sucedeu a Revolta Sertaneja, organiza-se o movimento político denominado Reação Sertaneja, visando impedir a posse do governador eleito, a Revolução Sertaneja dominava o Estado, a oposição arregimentou suas forças no sertão e empreenderam a destituição das autoridades estaduais, o governo se viu acuado na capital e localidades no recôncavo. A cidade de Lençóis, na Chapada Diamantina é ocupada por coronéis e jagunços. À noite, em Tararanga, o coronel João Amado, montado em sua mula preta, com seu compadre e amigo, o fazendeiro e político Brasiliano José dos Santos, o Brás, e o chefe dos cabras, Argemiro, um sergipano sarará, afamado e temido, a tropa armada, parecia um exército, tomam o rumo de Itabuna, para garantir a eleição do sobrinho Gileno Amado, eleições sob a vigilância de jagunços.
     Em 1913, o coronel João Amado de Faria, sofre um atentado na fazenda. Um jagunço atrás de uma goiabeira, esperou o momento certo para descarregar a arma. A bala mortal acertou a égua do coronel, que tombou morta. O coronel escapou com ferimentos de chumbo nos ombros e nas costas, que jamais retirou, visíveis até o fim da vida. Em 1914, uma enchente do rio Cachoeira, levou tudo, casas, vacas, cabras, plantações de cacau, inclusive a fazenda dos Amado, que são obrigados a vendê-la e se mudam para Ilhéus. Os desabrigados chegaram com a roupa do corpo no povoado de Ferradas. Em 1917, João Amado volta para a lavoura de cacau desta vez em Tararanga no povoado de Pirangi, e envolve-se nas lutas pela conquista da terra na região, lutas que serão narradas por Jorge Amado em "Terras do Sem Fim". 
Em 1922, o coronel João Amado envia o filho Jorge Amado para um internato em Salvador dos padres jesuítas, o Colégio Antônio Vieira, onde foi colega de Mirabeau Sampaio e Antônio Balbino. Jorge Amado no internato, depois de dois anos, entra em depressão e pede ao pai que o transfira do colégio que não atende. Ao voltar das férias, no início do terceiro ano, aos treze anos, resolve fugir, atravessa todo o sertão da Bahia no rumo de Sergipe, leva meses nessa viagem, até alcançar Itaporanga, onde mora o seu avô, José Amado de Faria, com quem ele permanece mais dois meses. Localizado pelo pai, mandou o tio Álvaro, que viajou até Sergipe para buscá-lo. Jorge Amado não ouviu críticas, nem acusações do tio, no seu sorriso, apenas solidariedade e aplausos. Ano seguinte é transferido para o internato Ipiranga, onde tem como colega o escritor Adonias Filho.
           No início do século XX, a elite republicana queria construir um novo Brasil, um país moderno, o mais afastado possível do passado escravista e colonial. Portanto, toda manifestação que remetesse ao passado africano, como os lundus, os maxixes e as batucadas, deveria ser desvalorizada em favor de modelos europeus como polcas e valsas. A viagem do maior expoente da música modernista, o maestro e compositor Heitor Villa-Lobos à Europa movimentou o meio musical carioca, foram o pianista Arthur Rubinstein e a soprano Vera Janacópulos que mais animaram o maestro e favoráveis ao projeto. O genial músico brasileiro enfrentou dificuldades financeiras. Villa-Lobos enfrentou muitas dificuldades para ter reconhecido no Brasil seu gênio musical. Quanto à participação de Villa-Lobos na Semana de Arte Moderna de 1922, foi convidado e pago pelo Graça Aranha, o músico não foi fruto desse evento, mas foi a partir daí, que trilhou o nacionalismo musical escrevendo os choros, as serestas e as cirandas. 
                 Foi proposta à Câmara  dos Deputados uma subvenção a fim de recompensar Villa-Lobos e os esforços do compositor carioca em prol da música brasileira. Depois de muito debate a favor e contra, a 22 de julho de 1922, graças a brilhante e contagiante defesa do deputado federal Gilberto Amado, "negar a Villa-Lobos o direito de ir à Europa mostrar que não somos apenas os 'Oito Batutas' que lá sambeiam, é uma atitude não digna da Câmara, uma brutalidade negar estes 40 contos, feriremos um artista, porque há muitos falsos artistas, mas artistas verdadeiros é uma cousa extraordinária". Os 'Oito Batutas', grupo do Pixinguinha e Donga que fazia um tremendo sucesso e excursionava por Paris com apoio de Arnaldo Guinle e Irineu Marinho, então resolveu-se conceder ao maestro Villa-Lobos a quantia de quarenta contos. 
                 Nessa época, se construía no Rio um dos primeiros prédios de apartamentos de luxo por Henrique Lage, empresário e industrial. Situado por trás da Biblioteca Nacional. O prédio fica na rua Araújo Porto Alegre, esquina com av Graça Aranha. Tem um simpático terracinho. Foram hóspedes ali, ao mesmo tempo, Ofélia Nascimento, Villa-Lobos e Gilberto Amado. Com essa trinca, ninguém mais queria residir. Ofélia passava o dia de janelas abertas cantando e dançado. Villa-Lobos dizia que, a conselho médico, só poderia tocar piano à noite até de madrugada. Gilberto Amado, amigo de copo, chegava aos berros, alta madrugada, puxando briga com todo mundo. Grande perigo, a clientela do prédio se foi. 
Heitor Villa-Lobos, considerado o maior expoente musical do modernismo, compôs músicas que incorporavam elementos de canções folclóricas populares e indígenas, de claro conteúdo nacionalista. Villa-Lobos, em sua brilhante carreira de compositor e maestro, musicou inúmeras poesias de escritores brasileiros. Muitas foram gravadas em disco, enquanto que outras ficaram nos manuscritos. Com música de Villa-Lobos foram gravadas em discos "Canção das Águas Claras", de Gilberto Amado; tema composto em 1958, "Poema de Itabira", de Carlos Drummond de Andrade; "Pai do Mato e Yara", de Mário de Andrade; "Canção da Terra", de Ronald de Carvalho; e várias poesias de Dora de Vasconcelos.
              Entre 1922 e 1926, durante a presidência de Arthur Bernardes, foram deputados na mesma legislatura, Gilberto Amado e Getúlio Vargas. Para Gilberto Amado a figura de Getúlio, modesta, neutra de aparência, não fornecia nenhuma indicação das formidáveis possibilidades de que era portador. Gilberto palestrou em várias ocasiões com o suave deputado gaúcho, que se dizia leitor dileto dos artigos do escritor sergipano e lhe disse logo na primeira conversa "Guardo seus artigos de O País", ao cruzar no caminho pela primeira vez.
              Para Gilberto Amado, o andar de Getúlio na Câmara Federal, não era o de quem acudia a um chamado decisivo, a um apelo imperioso, suas funções parlamentares, sem desígnio especial, sem intuito de firmar-se nelas como uma plataforma para o salto, discreto, conveniente, razoável. Anos depois, em 1960, em "Depois da Política", Gilberto Amado iria comentar a respeito do caráter de Getúlio, "seja qual for o julgamento moral acima do bem ou do mal, estudá-lo a luz, oferecerá sempre, uma fascinação extrema." Para Gilberto, a faculdade de enganar que Getúlio revelou, desafia comparação, "nunca em tempo algum houve quem iludisse tanto, tantas vezes ao mesmo tempo", conclui o memorialista.
             Gilberto Amado, morador do Leme, todos os dias passava pela praia do Flamengo a caminho da Câmara, em seu automóvel particular e com frequência via Getúlio esperando o bonde. Getúlio, vindo do Rio Grande do Sul, como deputado federal, nesse período vivia na pensão Wilson na praia do Flamengo. Com uma pasta na mão, Getulio pegava o bonde em direção a Galeria Cruzeiro. Getúlio Vargas viajava frequentemente lendo sempre um livro ou documento qualquer, leitura que interrompia próximo ao Teatro Municipal onde saltava a caminho da Câmara que funcionava no edifício da Biblioteca Nacional provisoriamente. 
              Em 1922 foi demolido a Cadeia Velha, onde funcionava a Câmara e o Senado, para a construção do Palácio Tiradentes em homenagem ao alferes que sonhou com a independência, no mesmo local de onde esteve encarcerado e saiu em 1792 para ser enforcado e esquartejado na atual praça Tiradentes. Desde a Proclamação da República existia um forte clamor para a construção de uma nova sede parlamentar, que funcionava ali desde a Independência. O esgarçamento do pacto oligárquico da República Velha já se tornava evidente, a nova sede deveria ser portadora de um discurso claro da valorização das funções legislativas tão combatidas pelas oligarquias.    
      
Na foto soldados entricheirados na então
 
Praia Formosa, hoje 13 de Julho, para
impedir 
desembarque de tropas e
passagem de embarcações.

  Em 1924 com 17 anos, Floriano Amado ingressou na Escola de Sargentos em Realengo recebendo a patente continuou os estudos na Escola Militar para seguir a carreira como oficial. Em Aracaju em apoio a revolta tenentista paulista que tinha o objetivo de derrubar o presidente Arthur Bernardes, o 28° Batalhão de Caçadores de Aracaju, se rebelou contra as ordens de embarque para São Paulo, onde integrariam as forças legalistas. As lideranças revolucionárias, liderados pelo 1° Tenente Augusto Maynard, depuseram o presidente do Estado, Graccho Cardoso assumindo uma junta militar e organizaram a defesa de Aracaju, que incluiu o alistamento de grande número de voluntários da capital e de diversos outros municípios. Batalhões legalistas de Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Bahia, cercaram e renderam os rebeldes, a maioria dos quais refugiou-se no interior do estado, e muitos deles engrossaram a Coluna Prestes e Graccho Cardoso reconduzido ao cargo.
     Gilberto Amado afirmava na Câmara Federal que o problema do Brasil era um problema de construção nacional, e que não poderia ser resolvido com revoltas militares. Graccho Cardoso recebia constantes ataques do então jovem deputado federal Gilberto Amado, que desagradava o então ministro da Justiça de Arthur Bernardes, Afonso Penna Júnior e do sergipano Jackson de Figueiredo, seu conselheiro no ministério e líder leigo dos católicos. Jackson de Figueiredo tinha pretensão de ser governador de Sergipe mas sua esperança foi frustrada quando em 1926, Graccho Cardoso fez um acordo com um aliado de Amado e este se tornou senador. Afonso Penna Júnior e Jackson de Figueiredo tinham um desgosto por Gilberto Amado e defendiam Graccho Cardoso, mas o presidente Arthur Bernardes intermediou um candidato que agradasse tanto a Gilberto Amado como a Graccho Cardoso. Para Gilberto Amado, o magro, teso e monolítico Arthur Bernardes queria o poder para exercer de fato, e não para mostrar ou fazer de conta que mandava. 
Em 1924, os cacauicultores iniciaram a construção do porto de Ilhéus, na baía do Pontal na foz do rio Cachoeira e a exportação do cacau começou a ser feita diretamente na cidade, trazendo com isso a presença de estrangeiros e um intercâmbio cultural com países da Europa. Vinham dançarinas, mágicos e também aventureiros, havia cabarés, clubes noturnos e cassinos. A cidade era movimentada. Uma época de muito dinheiro e de muito luxo.
 Gileno Amado, que havia sido derrotado nas eleições de 1926 para intendente da cidade pelo cel. Henrique Alves em seu jornal "A Época" do ano de 1928, noticia uma das cenas mais correntes durante o período dos coronéis, a chegada do cel. Henrique Alves na av. do Cinqüentenário, acompanhados de jagunços, espalhando o clima de tensão pela vizinhança. “Saudoso dos velhos tempos, o sr. Henrique Alves, não sabemos a que propósito, entendeu de encher a cidade de jagunços". Gileno Amado sempre criticava o comportamento político e social de Alves em seu jornal, como meio de denegrir a imagem do adversário. A av. do Cinqüentenário era o logradouro centro das relações da vida política em Itabuna, o símbolo da ostentação de luxo que o cacau propiciou à cidade, presenciando muito dos atritos ocorridos entre os coronéis da região, como tiroteios, brigas de facão e correria fizeram parte do contexto e do cenário da rua J.J.Seabra.
Washington Luís
Com a posse do presidente Washington Luis em 15 de novembro de 1926, foi revogado o estado de sítio presente em quase todo o governo Artur Bernardes. O presidente Washington Luís, conhecido como o "paulista de Macaé", em uma longa reunião a portas fechadas com o líder da bancada governista na Câmara Federal, Júlio Prestes, começara a fechar a lista dos nomes para o futuro ministério. Na sala ao lado, Gilberto Amado foi um dos primeiros a receber a notícia. Ficou decidido que Júlio Prestes, ficaria encarregado de sondar a predisposição dos escolhidos. A posse estava marcada para pouco mais de um mês, dia 15 de novembro. 
  Ao deixar a sala, Júlio Prestes comunicou Gilberto Amado, que o ministério da Fazenda caberia ao Partido Republicano do Rio Grande do Sul, e convidou para acompanhá-lo à residência do indicado. Gilberto Amado, imaginou que só poderia ser o deputado Lindolfo Collor, integrante da Comissão de Finanças da Câmara e recusou o convite, "não posso, não me dou com o Collor" desculpou-se, Júlio Prestes o interrompeu, o escolhido fora outro, eles iriam à casa do deputado Getúlio Vargas. Amado não acreditou, "nem Nostradamus apostaria em Getúlio para a pasta da Fazenda". Washington Luís preferiu o líder da bancada gaúcha, ao invés do Collor, pois este tinha atritos com o presidente de São Paulo,  Carlos de Campos, apoiador da candidatura presidencial. 
       A partir de 1927, Jorge Amado deixa o internato e passa a colaborar como repórter do Diário da Bahia. Em 1928 foi criado por um grupo de jovens escritores em Salvador, entre eles Jorge Amado e Édison Carneiro, guiados pelo guru, o velho poeta Pinheiro Viegas, o único acima de 30 anos, a "Academia dos Rebeldes", sendo o pioneiro na renovação das letras, alinhando a Bahia no debate nacional sobre o cenário do modernismo no país. O grupo lança a revista "O Movimento", com nove edições, seus autores irão fazer parte da geração de 30 do modernismo brasileiro. As atividades do grupo consegue uma inserção no interior das elites da vida intelectual da Bahia. A produção intelectual e literária de seus membros é marcada por características realistas, elementos regionais e crítica social através da revista com muita literatura, crônica política e colunismo social.
   A onda do romance do nordeste, regionalista, começa nos últimos anos da década de 1920, "A Bagaceira", de José Américo de Almeida, em 1928, "O Quinze", de Rachel de Queirós, em 1930, depois surgiram com Jorge Amado, José Lins do Rego e Graciliano Ramos, num clima de conotação política, trazendo essa característica para o romance brasileiro, que marcarão a literatura brasileira na década de 30, da era Vargas. A feição regional que predomina, o tom nostálgico e memorialista relacionado à decadência dos engenhos nordestinos nos romances de José Lins do Rego ao ciclo do cacau de Jorge Amado, tratam da conquista das terras do sem fim sob o comando autoritário dos coronéis, sem esquecer o drama da seca e o êxodo rural narrados por Rachel de Queirós e Graciliano Ramos com "Vidas Secas", escritores cuja produção será acompanhada pela critica militante. O romance dos anos 30, de um modo geral, é marcado por um traço documental, como registro e protesto e influenciará na dramaturgia regionalista com Ariano Suassuna e Francisco Pereira da Silva no teatro a partir da década de 40.
Sylvia Serafim
  Mário Rodrigues fundou em 1928 no Rio de Janeiro o jornal "Crítica", que Gilberto Amado a chamava de "um foliculário de escândalos". Sylvia Serafim, 27 anos, mãe de três filhos, casada com o médico Ernesto Thibau, escritora, poetisa, ligada às artes, simpatizante do socialismo e do feminismo, comandava o suplemento dominical no "O Jornal" de Chateaubriand, foi alvo de tensões conservadoras, em 1929. 

Seu desquite, amplamente noticiado pelo jornal "Crítica" de Mário Rodrigues, sugeriu um adultério com o médico Manoel de Abreu, futuro inventor da abreugrafia, motivo de sua separação. Em dezembro após dias de campanha de difamação contra Sylvia, ela comprou um pequeno revólver 22 e foi a redação para matar Mário Rodrigues que não se encontrava e assassinou o filho, o cartunista do jornal Roberto Rodrigues de 22 anos, deixando o filho, Sérgio Rodrigues com pouco mais de um ano, futuro arquiteto e designer de móveis. O julgamento em 22 de agosto de 1930 era o único assunto da cidade. Nenhum outro incendiara tanto o Rio desde o julgamento de Manso de Paiva, assassino do senador Pinheiro Machado em 1915. Sylvia foi absolvida, mas se tornou uma escritora esquecida e uma assassina famosa.
  Em 1929, Gilson Amado ingressou na antiga Faculdade Nacional de Direito no Catete no Rio de Janeiro, onde participou do Centro Acadêmico Jurídico Universitário, o famoso CAJU, formado por seleto grupo dos estudantes, no qual somente se ingressava mediante a defesa de uma tese, ao lado de Vicente Chermont de Miranda, Antônio Galloti, Otávio de Faria, Américo Jacobina Lacombe, Plínio Doyle, San Tiago Dantas e Vinicius de Moraes. Os debates mais acalorados se passam depois das aulas nos bares do Catete, onde os rapazes do CAJU se reuniam para discutir filosofia, política, literatura. Gilson Amado se tornou editor da Revista de Estudos Jurídicos e Sociais que se torna a voz oficial do CAJU. O vaidoso Gilson Amado super dimensiona o prestígio de seu posto de diretor editorial e passa a circular pelos corredores da Faculdade do Catete como uma espécie de guru. 
  O CAJU, apesar de negar preocupações políticas se opunha ao marxismo. O incentivo à mobilização política após a queda de Washington Luís, incitou os alunos a formar associações, surgindo então a Federação dos Estudantes Vermelhos, com simpatizantes do Partido Comunista, e a Liga dos Estudantes Ateus, criada por Mário Lago, que se opunha a orientação católica na educação preconizada pelo Centro Dom Vital, criado em 1922 por Jackson de Figueiredo, líder leigo dos católicos. Em 1930, Jorge Amado termina o ginásio no Rio de Janeiro e no ano seguinte passa a frequentar a Faculdade Nacional de Direito e publica pela editora José Olympio, o primeiro romance, "O País do Carnaval".
                Em 24 de outubro de 1930, o presidente da República, Washington Luís, foi deposto pelos militares, vinte e um dias antes do término de seu mandato. Saiu preso do Palácio do Catete acompanhado do Cardeal-Arcebispo Sebastião Leme e conduzido ao Forte de Copacabana, em novembro foi para o exílio em Paris, passando 17 anos sem voltar ao Brasil. A revolução pretendia expurgar os políticos carcomidos e responder as reivindicações dos trabalhadores, um mês após a posse de Getúlio Vargas, foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e a questão social deixaria de ser questão de polícia. Getúlio designou interventores nos estados para enfraquecer as oligarquias regionais, a dissolução do Congresso Nacional em 11 de novembro, foi duro golpe para São Paulo, que tinha uma importante representação.
Para Gilberto Amado, "Uma revoluçãozinha sul-americana como dezenas de outras", sobre a Revolução de 30, que acabou interrompendo sua carreira política, encerrando o mandato de senador, se dedicando a literatura e as ciências jurídicas. Após encerrar mandato de senador, Gilberto Amado leciona na Faculdade do Catete, ao lado de professores carismáticos como Afrânio Peixoto, Leônidas Resende e Hermes Lima formularam então as bases de alunos como Chagas Freitas, Evandro Lins e Silva, Carlos Lacerda, Moacir Werneck de Castro, San Tiago Dantas, Otávio de Faria e José Honório Rodrigues. Muito mais que uma academia, a Faculdade de Direito era um dos mais importantes espaços de formação política e de acirradas discussões de diferentes correntes ideológicas. Em 1932, Gilberto Amado lança o livro "A dança sobre o abismo" e em 1933, "O espírito do nosso tempo".
               Genolino Amado em São Paulo que havia sido nomeado em 1927 para chefe da censura teatral e cinematográfica, perdeu o cargo com a Revolução de 1930. Nesse período conviveu com os modernistas Oswald de Andrade, Menotti, Cassiano Ricardo e Cândido Motta Filho, se ligou intimamente a Galeão Coutinho, Brito Broca e Orígenes Lessa. Retornou imediatamente ao jornalismo, com posição de destaque nos Associados, dirigindo o Suplemento Literário do Diário de São Paulo e publicando cotidianamente crônicas no Diário da Noite. Genolino passa a colaborar no programa de rádio de César Ladeira na Rádio Record, seu jovem colega de redação em 1931, que se transformara repentinamente em locutor popularíssimo, sendo a "voz da Revolução Constitucionalista" de 1932 que contrapôs os paulistas ao governo de Vargas, onde realizava veementes discursos nos quais exortava a população a lutar e resistir ao governo.
               Com a Revolução de 1930, Gilberto Amado viu o embaixador do Brasil em Paris e amigo Souza Dantas muito apreensivo por conta de ter recebido o ex-presidente Washington Luís na estação de trem em Paris, e das mudanças políticas ocorridas, à insegurança do embaixador em identificar entre as forças vitoriosas um nome próximo que lhe garantisse o cargo o preocupava, mas logo surge o nome de Epitácio Pessoa, tio de João Pessoa, que havia sido assasinado em Recife. De Paris, Souza Dantas se utilizou dos jornais como elemento de apoio político, não ligando seu nome aos exilados que foram para Paris, junto com ex-presidente.
Souza Dantas
Gilberto Amado constitui-se em proclamador de seus méritos diplomáticos na imprensa, reduzindo animosidades que o atormentava nos jornais. A amizade de Amado pelo Dantas era sincera, e a de Dantas pelo Amado parecia eterna. Souza Dantas foi embaixador na França de 1922 a 1944, sendo em meio a crise na França ocupada pelos nazistas, o primeiro embaixador a se transferir para Vichy, onde emitiu centenas de vistos de entrada para o Brasil de judeus, comunistas e homossexuais, contrariando a orientação do governo Vargas em plena guerra. Para Gilberto Amado: "Quem nunca conviveu com Souza Dantas não sabe o que é receber um agrado, ali estava um amigo único de dedicação sem limites".
 
Gileno Amado e
Juracy Magalhães 
              Em 1931, o presidente Getúlio Vargas passa a controlar as oligarquias regionais com interventores nos Estados. Na Bahia o interventor Juracy Magalhães faz alianças com os coronéis para que apoiem Getúlio Vargas, resultando na criação do Instituto do Cacau da Bahia. Em Itabuna e Ilhéus, o grupo político de Gileno Amado passa apoiar a Revolução de 30 em oposição às velhas oligarquias. Juracy Magalhães era um jovem tenente do Ceará com quase 26 anos quando foi nomeado por Getúlio em 1931. Integrante do movimento tenentista, Juracy Magalhães destacou-se na Revolução de 30, liderando uma coluna militar que percorreu o nordeste pelo litoral saindo de Fortaleza a Salvador. Na política baiana Juracy não foi aceito por ser um "forasteiro" rivalizando com JJ Seabra que já havia sido governador que também apoiava Getúlio e preteria o cargo.
             A situação econômica estava assustadora em 1932, em outubro é lançado o Manifesto Integralista reunindo a intelectualidade conservadora e católica,  o integralismo estava em pleno apogeu. Na Faculdade de Direito era um lugar onde se fazia política, havia a ala de direita, mas a ala da esquerda que se chama Reforma era forte e fazia muito barulho. A esquerda era liderada pelos professores Leônidas de Resende, que havia sido diretor do jornal "A Nação", do Partido Comunista em 1927, o baiano Hermes Lima que se tornou um dos mais importantes intelectuais,  juristas e políticos brasileiros do século XX e Edgardo de Castro Rebelo, a maior cabeça da Faculdade, dava aula de Filosofia, Introdução à Ciência do Direito e Direito Comercial, tudo com muito cuidado. Esses três professores ficariam presos por cerca de um ano depois da "Intentona Comunista", sem processo, sob a acusação de difundirem ideias subversivas entre a juventude. 
            O marxismo era muito popular, em parte devido ao ensino do professor Leônidas de Resende sobre Economia Política. Maior influência provinha das noitadas nas casas dos professores Leônidas de Resende e Castro Rebelo, onde os estudantes como Carlos Lacerda, Evandro Lins e Silva e Antônio Chagas Freitas reuniam-se para discutir Marx, Engels e o positivismo quase sempre até de madrugada. Hermes Lima, ainda muito jovem, conquistara a cátedra de introdução a ciência do direito realizado em 1933, em disputa com Alceu Amoroso Lima.
        O confronto de ideias empolgava os estudantes, na defesa de tese de Hermes Lima, um grupo, do qual fazia parte Carlos Lacerda e Moacir Werneck de Castro, se mobilizou para vaiar Alceu, cantando um hino religioso com letra irreverente. Imbuídos da defesa dos ideais marxistas, e prontos a combater um conhecido concorrente ideológico, os estudantes invadiram o auditório das provas gritando palavras de ordem e ofensas a Amoroso Lima, que manifestou-se abertamente contra o preconceito político que vinha sendo vítima naquela casa. 
               Os estudantes Ivan Pedro de Martins, Carlos Lacerda e Jorge Amado, já um romancista com livros publicados, que havia se transferido da Bahia para a Faculdade de Direito do Rio, foram atraídos pela Federação da Juventude Comunista, a ala jovem do PCB, que absolveu a Federação Vermelha dos Estudantes, para a realização do Congresso da Juventude, onde se proclamava por "Pão, Terra e Liberdade", o slogan da extrema-esquerda, em oposição ao "Deus, Pátria e Família" integralista.
          Embora o Congresso nunca tenha se realizado os estudantes de Direito do Rio despertaram o interesse de outras faculdades em todo o Brasil. Antes de 1930, nenhum intelectual tinha a necessidade de se posicionar politicamente, eram deputados, senadores, funcionários públicos, conservadores ou liberais. A partir de 1930 por causa do comunismo e do fascismo, todos passaram a necessidade de não ficarem mais omissos, tendo que se situar em um dos dois campos ideológicos. Ser liberal passou a ser considerado reacionário e maldito, tanto pelos comunistas, como pelos fascistas, era execrado por todos.
                  Em 1933, o locutor César Ladeira com 23 anos se instalou no Rio de Janeiro e passou a ser a sensação da cidade, quando lia na então famosa Rádio Mayrink Veiga, diariamente anunciava o comunicador "as Crônicas da Cidade Maravilhosa", de Genolino Amado, inspirando André Filho em 1934 na composição da marcha "Cidade Maravilhosa" que se tornaria o hino da Guanabara, ficando em segundo lugar no concurso de marchinhas do Carnaval de 1935, na voz de Aurora Miranda, irmã da Carmen Miranda, "A Pequena notável" nome dado pelo radialista César Ladeira. O Rio passou a ser a "cidade maravilhosa", título da famosa crônica diária escrita por Genolino Amado e lida pelo locutor César Ladeira na Rádio Mayrink Veiga. 
             Desde que chegara ao Rio, para dirigir a Rádio Mayrink Veiga, passou a ser um dos nomes mais populares do rádio carioca, dono de uma voz que o consagrou como o melhor locutor brasileiro de todos os tempos, conduzindo a Mayrink Veiga a uma posição de liderança absoluta, a emissora só perderia o primeiro lugar na década de 40 para a Rádio Nacional. A Rádio Mayrink Veiga era a vanguarda do rádio, criando as rádios-novelas, programas com auditórios, a primeira a ficar 24h no ar e a realizar uma transmissão internacional com a Radio Belgrano de Buenos Aires com Carmen Miranda. O rádio, assim como o cinema, animava a vida da capital federal, os mais ricos se divertiam nos cassinos, os mais pobres nas rodas de samba.
           Também pela Rádio Mayrink Veiga, o locutor Gilson Amado comentou durante meses, os debates da Assembléia Nacional Constituinte que resultariam na Constituição de 1934 e promoveu as primeiras mesas-redondas no rádio, na qual fazia comentários sobre a política brasileira e mundial, no programa "Mesas-redondas de Gilson Amado", depois levou o formato do programa para a televisão. Na década de 50, foi diretor na Rádio Mayrink Veiga, onde trabalhou por 25 anos. Gilson Amado era advogado, jornalista, escritor, funcionário do Ministério da Educação e Saúde, na década de 30, passou por diferentes ministérios, Justiça, Viação, Trabalho, Indústria e Comércio e Educação, no último atuou no gabinete do Gustavo Capanema, então ministro da Educação. 
           No Ministério da Educação, Gilson Amado conheceu sua futura esposa, a educadora Henriette de Hollanda, casando-se em 1937, tendo a filha Camila Amado no ano seguinte. No Ministério da Educação, a presença de Gustavo Capanema, político da direita mineira, que chegara a fundar em Belo Horizonte, com Francisco Campos, uma milícia fascista, os "camisas-pardas", representava uma contradição no governo de Getúlio Vargas, com uma equipe de intelectuais e artistas de vanguarda apontada pelo conservadorismo como comunista. Um dos desafios de Capanema foi a adoção do projeto do edifício-sede do Ministério da Educação, de autoria de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, com a participação de Le Corbusier.
Em 1934, o advogado João Mangabeira foi a Ilhéus lançar o "Movimento Autonomista", “A Bahia ainda é a Bahia” contra o interventor Juracy Magalhães. Durante o comício, o grupo político ligado a Gileno Amado iniciou uma vaia, Mangabeira reagiu - "Essa canalha assalariada de Juracy". O comício é interrompido a tiros. O “coronel” Henrique Alves, chefe político, foi à casa de Gileno Amado ameaçar: "O que acontecer ao Dr. João Mangabeira, acontece com você". João Mangabeira inspirou o personagem Mundinho Falcão em Gabriela, Cravo e Canela de 1958 de Jorge Amado. Na televisão o personagem foi interpretado por José Wilker em 1975 e Mateus Solano em 2012, ambos na TV Globo.
Quando as oligarquias no interior se uniram lançando o movimento autonomista, em Salvador, Juracy via nesses coronéis, chefes locais e que não se poderia chamar pejorativamente de coronéis, como o advogado Gileno Amado de Itabuna e Lauro Passos, médico de Cruz das Almas. Em 1933, Juracy Magalhães implantou os serviços de água e esgoto em Itabuna, era mais uma reivindicação de Gileno Amado. Em Itabuna, Juracy Magalhães deu apoio a Gileno Amado, que chefiava a facção contrária a João Mangabeira, conseguindo obter uma substancial vitória.
Em 1934, Gileno Amado foi eleito deputado federal constituinte e transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde ficou por pouco tempo, pois foi convidado por Juracy Magalhães para assumir a Secretaria da Fazenda do Governo da Bahia, entre 1935 e 1937. Em 27 de janeiro, o deputado Gileno Amado trouxe para o recinto, para que constasse dos Anais, a entrevista que o general Góis Monteiro, concedeu à imprensa carioca, em vésperas de assumir a pasta da Guerra. O general, desde a eclosão do movimento de outubro de 30, constituíra-se o que, na moderna linguagem jornalistica se chama noticia. Raro era o dia, em que seu nome nao aparecia nos jornais.
            Em 1934, não havia literato brasileiro que passando por Paris, não derramasse o seu encantamento como Gilberto Amado, "que espetáculo para o observador! Nesta Paris, que faz de tudo uma harmonia, que dá ordem a tudo, mesmo a apreensão e a angústia, poesia, letras, todas as artes...". Gilberto Amado se separa de Alice Gibson, a filha Anna fica mais próxima da mãe no Brasil e Vera Gibson Amado do pai onde após a Segunda Guerra em Paris segue a carreira de atriz casada com o diretor francês Henri Georges Clouzot.
Após a separação, Gilberto Amado inicia sua carreira diplomática e transformou-se num hábil conhecedor do Direito Internacional, para viver muitos anos em missões diplomáticas no exterior. Em 1934 foi nomeado consultor jurídico do Itamaraty participando da Conferência para a manutenção da Paz Pan-Americana realizada em Buenos Aires, em 1936, foi nomeado embaixador em Santiago, em 1936-38, em Helsinque em 1938-39, em Roma entre 1939-42 e depois Berna 1942-43, mas em virtude da guerra não foi ocupar o cargo, bem como outros diplomatas brasileiros que também não foram.
No Brasil em 1934, a nova Constituição da República, promulgada em julho, iria ter breve duração e Getúlio Vargas tornava-se presidente constitucional. A Liga Eleitoral Católica conseguiria a aprovação de uma série de medidas a seu gosto e a esquerda estava escassamente representada. A força predominante na esquerda era o Partido Comunista e no campo oposto, a Ação Integralista Brasileira, que atraía a direita católica, liderada pelo cardeal D Sebastião Leme e pelo jovem dirigente do Centro Dom Vital, Alceu Amoroso Lima, herdeiro do legado de Jackson de Figueiredo, que morreu tragicamente na frente do filho em 1928, afogado no Rio de Janeiro, após escorregar da pedra da Joatinga, na Barra da Tijuca, onde foi pescar, seu corpo foi encontrado dias depois em Maricá.
Só o integralismo estava representado na Câmara, com um deputado, muitos veteranos estavam de volta ao Palácio Tiradentes. Não havia partidos nacionais, a não ser os movimentos integralista e comunista. O integralismo começara com Plínio Salgado e conseguiu que se espalhasse pelo Brasil inteiro, dizia-se que era subvencionado pela Alemanha. Jornalista, Plínio sofreu na juventude influência de Jackson de Figueiredo, colaborou na revista de Monteiro Lobato e tomou lições de tupi com Raul Bopp. O lema dos camisas-verdes era "Deus, Pátria e Família", as palavras de Afonso Penna em seu leito de morte. Em 1930 se encontrou com Mussolini e viu o fim da luta de classes.
               Em 1934, era também o ano em que Arthur Ramos publicava a sua obra fundamental "O negro brasileiro", que José Lins do Rego lançava "Banguê" e Jorge Amado iniciava o seu ciclo baiano com "Cacau". Para a extrema-direita nativa, a arte moderna era sinônimo de bolchevismo. O fascismo conquistava posições, a expansão da Ação Integralista, que contava com mais de mil núcleos no país e a influência do catolicismo conservador levou o Partido Comunista a organizar um comitê para a realização do "Congresso contra a Guerra e o Fascismo" no Teatro João Caetano, cedido pelo prefeito Pedro Ernesto, na Praça Tiradentes em 23 de agosto de 1934. O Brasil se radicalizava. 
     Desde a República Velha os constitucionalistas como Rui Barbosa sofriam as críticas daqueles que eram chamados de "personalistas" por Gilberto Amado, os que acreditavam num executivo forte para enfrentar a desordem e a anarquia. No início de 1935, o constitucionalismo liberal e o reformismo econômico estavam sendo deslocados da cena política pelos extremismos comunista e fascista. Nos anos de 1930, Getúlio passou a estimular ora os radicais da direita ora os da esquerda, de maneira a pressionar o conservadorismo das elites que dominavam o Congresso. No seu jogo de gangorra, Vargas usou-se do integralismo como tropa de choque anticomunista, considerando-os exóticos e passageiros, em 1934 se tornou um fenômeno de massas com 180 mil aderentes, havia membros da elite como Antônio Galotti e atraiu homens como Francisco Campos, mas a maioria recrutada era da classe média, quase todos eram hostis aos judeus.
               Em 6 de março de 1935, chega ao Brasil enviado pelo Comintern, a Internacional Comunista, o ex-deputado alemão Arthur Ernest Ewert, com a missão de estabelecer contato com o Partido Comunista do Brasil, onde é fundada em 23 de março, um órgão de combate ao fascismo, formara-se a Aliança Nacional Libertadora, que reunia a esquerda sob a liderança de Prestes, que é proclamado presidente de honra em sessão solene no Teatro João Caetano em 30 de março. ANL foi a tentativa de organizar uma ampla frente nacionalista e popular contra o regime Vargas e, ao mesmo tempo, reagir ao avanço do facismo, representado pela Ação Integralista Brasileira, de Plínio Salgado. 
       A ANL, Aliança Nacional Libertadora foi apresentada por tenentes descontentes e partidários da oposição como um movimento contrário à proposta Lei de Segurança Nacional e que visava libertar o Brasil do domínio econômico estrangeiro. A organização foi criada a partir de uma resolução da Internacional Comunista para promover e apoiar frentes populares e antifascistas pelo mundo, entretanto, a conexão entre a Internacional Comunista e a ANL era desconhecida do grande público brasileiro que afluía em massa para unir-se ao novo movimento assustando o governo Vargas. A ANL e AIB foram os primeiros movimentos doutrinários de massa no Brasil. Comícios populares promovidos pela ANL ocorreram em todo o Brasil, em Petrópolis ocorre um combate sangrento provocado pela Ação Integralista Brasileira. É assassinado o operário Leonardo Candu. Em Porto Alegre no Teatro São Pedro marcou uma das maiores manifestações populares da capital gaúcha. Em julho o governo fecha a ANL por decreto e sua sede é lacrada pela Polícia do Distrito Federal.
3°Regimento de Infantaria 
            A resposta da ANL veio no fim de novembro de 1935, no dia 23 eclode o movimento revolucionário em Natal e no dia 24 em Recife. No dia 25, Getúlio se comunica com o embaixador do Brasil em Washington, Osvaldo Aranha, relatando a situação do país. É a "Intentona Comunista", a sublevação armada da Aliança Nacional Libertadora, de Luís Carlos Prestes. No dia 26, o general Eurico Dutra solicita reforços para proteger o Ministério da Guerra. No dia 27 ocorreram os levantes com o capitão Agildo Barata no 3° Regimento de Infantaria na Praia Vermelha e na Escola de Aviação Militar, no Campo dos Afonsos na zona oeste do Rio de Janeiro. Em Natal, onde os revoltosos conseguiram instalar um governo provisório revolucionário, durou três dias e meio, a revolta é dominada pelas forças do Exército e das polícias dos Estados vizinhos. 
            A revolta por militares comunistas foi sufocada em algumas horas no Rio de Janeiro, que leva o governo Vargas na sequência da "Intentona", a suceder uma repressão no setor cultural, nas atividades artísticas e literárias, denunciando os intelectuais modernistas como agentes da subversão moscovita. O movimento da revolta durou pouquíssimo, mas a caça às bruxas durou muito: decretou-se o estado de sítio e efetuaram-se quase 10 mil prisões no país. É no Rio de Janeiro que a reação do governo é mais clara e violenta à tentativa de tomar o poder por parte dos comunistas. São perseguidos jornalistas, escritores, artistas e professores, os da Faculdade de Direito são os mais visados, entre eles Castro Rebelo e Hermes Lima. 
                  Em 1936, a polícia de Vargas invadiu o prédio da rua do Catete para prender dois professores, no meio da aula, queriam levar o professor de história, os alunos, entre eles Carlos Lacerda e João Saldanha, rechaçaram os soldados a socos e pontapés e bateram na polícia, que voltaram no dia seguinte com reforços e bateram nos alunos, que levaram uma surra. Além de apanhar, este episódio ocasionou a um grupo de segundaristas de Direito, jovens comunistas, a expulsão da escola, entre eles João Saldanha. Nesta lista de perseguidos figuravam nomes como Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade, Jorge Amado, Oscar Niemeyer, Cândido Portinari, Anísio Teixeira e Di Cavalcanti.
Em 5 de março de 1936, Luís Carlos Prestes é preso. Alguns mais visados como o escritor, Graciliano Ramos, é preso em Maceió e chega ao Rio de Janeiro, dia 15 de março de 1936, entre os 116 presos políticos de Natal e Recife. Sob a falsa acusação de subversivo, Graciliano foi acusado por contágio, quando na realidade não pertencia nessa época nem à Aliança Nacional Libertadora nem ao PCB, que só viria a se inscrever em 1945, não era um militante, mas costumava reunir-se no Café Central de Maceió, com um extraordinário grupo de literatos comunistas, de que faziam parte José Lins do Rego e Rachel de Queiroz, que foi presa em 28 de outubro de 1937 em Fortaleza como comunista. Presa também a educadora Armanda Álvaro Alberto, criadora da Escola Proletária Meriti, que ficou conhecida como "Mate com Angu", por ter sido uma das primeiras a oferecer merenda escolar na América Latina e Carlos Mariguella.
Mariguella, secretário técnico da organização e logística do Partido Comunista, foi preso em maio de 1936 no Rio de Janeiro, onde militava sob o codinome de Nerval, em sua casa encontraram material para a produção de documentos frios e granadas, passou seis anos no presídio de Fernando de Noronha. Seu perfil mitológico revolucionário foi produzido na trilogia stalinista de Jorge Amado "Os subterrâneos da liberdade" quase vinte anos depois, onde o personagem em homenagem a Mariguella se chama Carlos, um mulato destemido que desafiou trotskistas e torturadores. Outros tiveram que se exilar ou se esconder por um longo período, como Jorge Amado, depois de preso por dois meses, em 1936 pegou o vapor Comandante Capela do Lloyd Brasileiro, a linha marítima para Aracaju seguindo para Estância, cidade natal de seu pai, moradia sergipana do coronel João Amado de Faria, onde visitava com frequência.
 
Jorge Amado no "exílio" em Estância com
frequentadores da Papelaria Modelo: Dr.Clóvis,
João Nascimento, Nhô Gallo, Sr.Libório, Sr.Lauro,
Oscar Fontes de Faria em 1937.

         O casarão da família Amado em Estância era de várias janelas, bem defronte ao então limpo e sonoro rio Piauitinga, na sala da frente, cadeiras pesadas e antigas, de espaldar aveludado, pelas janelas, o ventinho manso e o murmurejar do Piauitinga, rumo ao oceano, trinta quilômetros dali, e uma paisagem tomada por mangueiras e jaqueiras de troncos poderosos e imensas copas fechadas rodeava o casarão. O corredor interminável, com quatro ou cinco portas para amplos quartos, desembocava na sala de jantar enorme, atrás, a cozinha de tamanho despropositado, com seu majestoso fogão de tijolos e a mesa sem tamanho no centro. A porta da cozinha dava para o quintal com duas mangueiras, uns seis metros distante um do outro, com uma rede colorida de bom tamanho que dava para acomodar com folga umas três pessoas.
               A polícia já tivera a procura do escritor no Rio, São Paulo, Salvador, até em Itabuna e Ilhéus. Jorge Amado já era romancista famoso, autor de "O país do carnaval", "Cacau", "Suor" e o recente "Jubiabá", que a crítica vinha saudando com tanto entusiasmo, sendo considerado entre os cinco melhores romances do Brasil. Refugiado na escondida Estância do regime de Getúlio Vargas foi uma opção sensata. Nas terras estancianas Jorge Amado se reunia com amigos na Papelaria Modelo, ponto de encontro cultural, recebia estudantes de Estância e Aracaju e escreveu "Capitães de Areia" e "Mar Morto" no Hotel Vitória, onde residiu com sua família, a primeira mulher Matilde Garcia Rosa e a filha Lilá, nascida em 1935. 
              Matilde era de um sorriso de belos e fortes dentes, uma moça de uns vinte anos, muito bonita, alta, lábios carnudos e cabelos pretos que lhe caíam os ombros, pele muito branca e os olhos de um marrom carregado, era de uma tradicional família de Sergipe, os Garcia Rosa, cujo membro destacado era o professor e poeta Antônio Garcia Rosa, cuja poesia deliciava-se Gilberto Amado, foi membro fundador da Academia Sergipana de Letras. Garcia Rosa ficou conhecido como o "solitário da colina" por refugiar-se na parte oeste da cidade de Aracaju no bairro de Santo Antônio, onde havia uma pequena colina próximo a igrejinha de Santo Antônio, após uma epidemia de gripe matar centenas de pessoas em Aracaju e no interior.
                Em 1936, Jorge Amado lança o romance "Mar Morto", um capítulo é dedicado a Besouro, Cordão de Ouro, figura mitológica da Bahia na década de 20, exímio capoeirista, compositor de samba de roda, pescador, embarcadiço e vaqueiro, nasceu no fim do século XIX, num antigo quilombo, em Santo Amaro da Purificação, aprendeu com um tio africano, ex-escravo, a lutar capoeira, o que era proibido. Mais de 40 anos após o fim da escravidão, ser praticante de atividades ligadas à herança africana era considerado crime. Nessa época a polícia perseguia não só as rodas de capoeira, mas também o samba e o candomblé. Quando Besouro estava em perigo, era avisado, Besouro desaparecia, passava a noite no mar em seu saveiro, mas acabou sendo assassinado em 1924, com menos de 30 anos. 
           Nos anos 60, Baden Powel, passou meses na Bahia, frequentando terreiros e candomblés, que resultaram os famosos afrossambas, em parceria com Vinícius de Moraes, incorporou a sonoridade do Berimbau ao seu jeito de tocar violão, e ouviu as histórias sobre Besouro, creditando-se versos de samba de roda a seu respeito, entre esses verssos, "Quando eu morrer me enterrem na Lapinha", Baden colocou melodia e cantou para Paulo César Pinheiro que completou a letra resultando na primeira parceria entre os dois. Na voz de Elis Regina ganhou primeiro lugar na Bienal do Samba em 1968 promovida pela TV Record de São Paulo.
                      Em 1937 se inicia pela agitação política para as campanhas a sucessão presidencial. Entre os candidatos José Américo de Almeida, intelectual do nordeste, ex-ministro de Vargas com apoio da esquerda, o favorito Plínio Salgado, líder integralista e Armando Sales, ex-governador de São Paulo e anti-Vargas. O espectro do comunismo alvoraçava os militares, que incentivava uma campanha contra os seguidores do "regime moscovita", circulando nos meios militares que os adeptos de Prestes iriam destruir o próprio exército, e que foi descoberto um "agrupamento comunista" no Congresso Nacional. 
              Diante da psicose e da fobia, e da impossibilidade de um novo mandato para Getúlio Vargas, através de eleições, Getúlio viu a oportunidade para o golpe. O governo se utilizou da agitação política criando o chamado "Plano Cohen", um falso programa de ação comunista para derrubar Vargas foi divulgado em 30 de setembro pelo chefe do Estado Maior do Exército, general Góis Monteiro. Em fins de setembro de 1937, o governo Vargas anunciou a descoberta dessa terrível conspiração comunista, chamando de "Plano Cohen", que sem dúvida é a maior charlatanice da história deste país. Documentos, que depois de 1945, se revelaram falsos, indignando a sociedade, foram apresentados ao público pelo alto comando militar brasileiro como apreensão das forças armadas, que a Internacional Comunista derrubaria o governo.
           O nome do documento era uma referência ao líder comunista húngaro Béla Cohen, no entanto o texto apresentado como prova do golpe comunista foi escrito com ajuda de Plínio Salgado pelo então capitão Olímpio Mourão Filho, o mesmo que em 1964, já como general inicia a Operação Popeye, descendo com as tropas de Juiz de Fora, para tomar a Guanabara. No dia 1° de novembro integrantes da AIB desfilam no Catete para Getúlio se animar a dar o golpe. O falso plano apresentado levou Vargas a decretar "Estado de Guerra", o Congresso apressou-se em aprovar, e a repressão ao comunismo tornou-se prioridade máxima, com apoio da mídia e da sociedade, instaurando o "Estado Novo" em cerimônia dia 10 de novembro no Palácio Guanabara. Com a tomada do poder em 10 de novembro de 1937, o governo Vargas e seus líderes militares, cancelaram a eleição presidencial programada para o ano seguinte, fecharam o Congresso e promulgaram a nova Constituição, iniciando assim a ditadura do "Estado Novo".
     Gilberto Amado assistiu, no Palácio Guanabara, à cena da Proclamação do Estado Novo. No salão, além do vozerio, ressoavam os urros dos torcedores de uma partida de futebol, no campo do Fluminense. Getúlio entrou no recinto, sem palmas ou ovações e começou a discursar, os fotógrafos e as pessoas o cercaram. "Gol", ouvia-se do Fluminense e Getúlio, sereno, a ler. O Estado Novo não encontrou tenaz oposição entre os intelectuais da época, ao contrário do que ocorreu em 1964, onde a inteligência brasileira, passou claramente para a oposição política.
            Em Salvador, durante o Estado Novo, foram proibidos e queimados exemplares do romance "Capitães de Areia", de Jorge Amado. A acusação foi que a obra fazia "propaganda comunista". Parecia, assim, vitoriosa a corrente política, de tendência fascista liderada, no Brasil, pelo integralismo de Plínio Salgado, mas a AIB foi dissolvida por decreto de Vargas, em 3 de dezembro de 1937. Em 1938, a repressão se acentuou com prisões arbitrárias, sem mandado judicial e submetidos a tortura e censura a imprensa. Em maio ocorre a "Intentona Integralista" com ataques ao Palácio Guanabara, Ministério da Marinha e residências de autoridades. A prisão de Plinio Salgado é feita em 26 de janeiro de 1939.
Gilberto no meio dos pais Melchisedech e Donana
        Na fotografia ao lado, o grupo Amado, vemos Gilberto Amado, sentado, olhando para cima, ao lado, da mãe Donanna e da avó Maria Rosa de Lima, conhecida como Mãequinha, e Melchisedech. Ao lado de Melk, Gileno Amado, atrás em pé, no canto direito, Gilson Amado. Frederico Gilberto Amado está em pé entre Donana e Mãequinha. Em 1937, a filha de Gilberto Amado, Anna Gibson Amado, casou com o consul José Augusto Paes Leme Ribeiro na antiga Iugoslávia, onde nasceu a única filha do casal em 1938, em Belgrado, Theresa Amado Paes Leme Ribeiro, em homenagem a avó paterna Ruth Brant Paes Leme Ribeiro, viúva do engenheiro Honório Augusto Ribeiro Filho, falecido em 1925. Ruth era filha adotiva do Conde e médico, Dr. Augusto Brant Paes Leme. A família retorna ao Brasil antes da Segunda Guerra, se estabelecendo em Petrópolis, onde se separou do diplomata em 1948. Anna trabalha na Radio Nacional como roteirista. Anna e a mãe Alice Gibson viveram em Copacabana. Alice Gibson faleceu em 4 de janeiro de 1977 e a filha Anna Gibson Amado faleceu em novembro de 1995 no Rio de Janeiro aos 82 anos. Theresinha Amado Paes Leme Ribeiro foi roteirista casou com Oswaldo Celso Queiroz Guimarães e tiveram dois filhos. Em 1939 Frederico Gilberto Amado concluiu o 4° ano da Faculdade Nacional de Direito, casou com Maria Cely de Freitas Amado, filha de Alfredo Nabuco de Freitas, tendo a filha Anna Maria de Freitas Amado, em 21 de maio de 1941. Em 1944 embarca para operações de guerra na Itália junto com os 25 mil brasileiros da FEB como aspirante a oficial sendo promovido ao posto de tenente em 6 de julho de 1945. Frederico faleceu em 1985. 
Gentil Amado
Genysson e Dalva
        
   Genysson Amado, filho caçula de Melk, se formou em medicina no Rio de Janeiro, casou com Dalva Fossati que teve dois filhos Ricardo e Carlos. Genysson foi diretor do Hospital dos Servidores, em 1987 proferiu palestra na ABL, por ocasião do centenário de nascimento de Gilberto Amado, ao lado da irmã Genne com quem conviveu no antigo apartamento da rua Domingos Ferreira onde ficaram famosas as reuniões dos Amado aos domingos na casa de Donana na décadas de 40 e 50. Gentil Amado depois de estudar direito na Bahia, se transfere para o Rio de Janeiro onde trabalhou na Comissão Central de Preços e posteriormente no Instituto de Previdência dos Servidores do Estado, em 1935 casou com Nilcia Ramos Amado, ela na época com 19 anos, em 1937 nasce a primeira filha do casal, Genne, em homenagem a irmã, ficou conhecida como tia Gi, era afilhada de Gillete, irmã de Gentil, Genne teve três filhos Guilherme, Eduardo e Marcelo. Em 1939 nasce o segundo filho, Melchisedech Ramos Amado, em homenagem ao pai, o coronel Melk, falecido em 1937 e a filha caçula, Vera Amado, nasceu em 1941. Melchisedech Ramos Amado se tornou aviador e casou duas vezes, a primeira vez com Pérola Wischansky. Gentil Amado viveu entre o Leblon e o sítio em Miguel Pereira, faleceu dia 26 de outubro de 1950.
1946 - Família Amado e amigos na casa de Donana, na Rua Domingos Ferreira
            
Nos fins dos anos 30 e início dos anos 40 ficaram famosas no apartamento da Rua Domingos Ferreira, em Copacabana as reuniões dominicais dos Amado, onde eram servidas as feijoadas de Donanna, num desses encontros Gilson Amado leva Henriette de Holanda para conhecer Donanna. O síndico do prédio queria proibir de tanta gente dentro do apartamento, pois acreditava que o prédio poderia desabar. Quase todo fim de semana tinha alguma comemoração. Donanna fica viúva de Melchisedech em 1937, das cinco filhas, três casaram, tia Mimi, adotou uma menina, Gigi e Petina. A mais velha Iaiá e a mais nova Genne, ficaram solteiras. Genne cuidou de Donanna até o fim da vida em 1955. A única que teve filhos foi Petina com seu meio-tio Alfredo, filho de José Amado de Faria com a segunda esposa.
Missa de sétimo dia de Donanna.
Correio da Manhã, domingo, 
13 de fevereiro de 1955

Gilson, Genysson, Gileno, Genolino, Gildásio
Um dos domingos em casa de Donana
                    Alfredo era fiscal de imposto e viajava muito, a família se dividiu, os filhos nascidos entre Sergipe e Bahia. Alfredo vivia no Leblon quando faleceu em 1965 no Rio de Janeiro. São filhos de Alfredo e Petina: Annette era a filha mais velha, Alfredo Filho, conhecido como Dodó, ia ser médico, mas tomou um medicamento enganado e morreu moço, Augusto Alfredo Amado, nasceu na Ilha de Itaparica na Bahia e faleceu em 1979, pai de Ana Gilda e Luiz Augusto Amado, Agnaldo Amado, delegado de polícia no Rio de Janeiro, teve um filho chamado Agnaldinho, juiz do trabalho em Juiz de Fora, 
Alfredo e Mariza
Dr. Arlindo Amado foi médico em Senhor do Bonfim na Bahia, faleceu em 1992 com quase 80 anos, Gileno Amado Sobrinho, em homenagem ao tio Gileno, Gilda, se tornou enfermeira e Aída, não tiveram filhos e cuidaram dos pais. 
Depois Gilda foi viver em Conselheiro Lafaiete-MG e Acyr foi viver em Mata de São João-BA, faleceu em 2007, teve três filhos e uma filha chamada Petina em homenagem a mãe, Anaide, outra filha de Alfredo e Petina, conhecida como Lulu, morreu atropelada no centro de Salvador nos anos 80, deixando quatro filhas, Tereza Amado e Maria da Purificação Amado, conhecida desde a juventude por Mariza, nasceu em 1930 em Santo Amaro e viveu em Salvador.
                  Em 1937, Floriano Amado, filho de vó Dona e José Amado Sobrinho, formou-se em engenharia civil na UFPE, em 1939, promovido a capitão do exército dirigiu as obras militares do 26° Batalhão de Caçadores de Salvador e 27° Batalhão de Caçadores de Aracaju, onde morou na praça Camerino, retornando ao Rio em 1940 para fazer o curso de Metalurgia e Armamento na Escola Técnica do Exército, se formando em engenharia metalúrgica na turma de 1942. Em 1945 foi transferido para servir na fábrica de Realengo como diretor no departamento de munição e artilharia, onde sua capacidade administrativa ficou patente, sendo promovido em 1953 a coronel do exército, comandou a Fábrica de Munições do Exército em Juiz de Fora até 1959, prestando grandes serviços nos bairros de Benfica e Jóquei Clube, sendo homenageado pela Câmara Municipal com o título de cidadão honorário.
     
Rio Potengi, Natal
  O
s alemães, através da empresa “Sindicato Condor”, operava no Brasil com uma hidro base em Natal, o correio aéreo da Alemanha à América do Sul, a partir de 1930. A
ntes da Segunda Guerra Mundial, dois hidroaviões da Alemanha nazista sobrevoavam a costa do Mangue-Seco fazendo esse correio aéreo e uma das aeronaves teve uma pane obrigando o piloto a fazer um pouso forçado. Os alemães precisavam consertar o motor e souberam que em Estância, existia um mecânico que trabalhava na manutenção dos motores da Fábrica de Tecidos Santa Cruz, era João de Faria Amado, conhecido como Jofama, filho de José Amado Sobrinho e Vó Dona. Jofama foi chamado a ir a Mangue-Seco para consertar o aparelho, sem nunca ter visto um hidroavião, Jofama deu um jeito e botou o motor para funcionar. Os alemães impressionadíssimos com a habilidade de Jofama o convidaram para ir a Alemanha que não aceitou. 
Jofama nasceu em Estância, em 1904, autodidata, aprendeu inglês sintonizando no rádio a BBC de Londres. Editava o jornal Notícias JOFAMA que era muito conhecido na cidade. Também editou o Jornal o SIM SIM tendo as filhas Elza e Jandira como editora com artigos de Padre Almeida e o pessoal da URJE, União Redentora da Juventude Estanciana. Tinha na própria casa um sistema de iluminação independente, quando havia pane na distribuição de energia elétrica, tinha um gerador que automaticamente ligava todas as luzes da casa. Ele consertou o relógio da Igreja Matriz e usinava peças pequenas de vários relógios que consertava. Faleceu em 1970.
Vozes do Mundo-1937
               Em fins de 1937, Genolino Amado lança "Vozes do Mundo", crônicas reunidas como colaborador na imprensa dominical, e em dezembro de 1939, "Um Olhar Sobre a Vida", também resultado da reunião das crônicas de domingo. São pequenos ensaios de uma época que dá saudade do mundo, do Brasil e do Rio, um tempo em que muito se viveu, no mundo, a guerra civil espanhola e a assustadora ascensão do nazi-facismo. No Brasil, a decretação do estado de guerra, o integralismo a crescer e a se tornar ameaçador. No Rio, o poente de uma "belle époque", do jogo nos cassinos, dos cafés e cabarés na Lapa malandra e boêmia, um Rio de poucas favelas, das gostosas viagens de bonde e da areia deserta no Leblon.
                      Em 1938, é lançado no Rio com grande sucesso de público, a revista semanal "Diretrizes", pelo jovem jornalista Samuel Wainer, que depois fundou o "Última Hora". Wainer obteve um financiamento para a revista da Rio-Light S.A., companhia estrangeira, no entanto o acordo chegou ao fim depois que se tornou óbvia a orientação esquerdista da revista. A redação foi transferida para o pequeno apartamento de Wainer, na rua Senador Dantas,  no Centro. Sob a direção de Samuel Wainer, neste apartamento reunia-se com o grupo de pró-comunistas que trabalhavam para a revista Otávio Malta, representava secretamente o PCB, Jorge Amado, Rubem Braga, Joel Silveira, sergipano de Lagarto, além de Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Carlos Lacerda, Moacir Werneck de Castro, Raquel de Queiroz e Aníbal Machado. Para Jorge Amado, Samuel Wainer, era "uma das maiores figuras intelectuais de nossa Pátria, um mestre, na maneira de reagir, de sentir, de viver, de amar, de ser, um brasileiro tão completamente brasileiro, sua memória é uma arma do povo", conclui o romancista. "Diretrizes" estava rapidamente se transformando num veículo popular para artigos de talentosos escritores da esquerda. Carlos Lacerda escreveu sobre a colonização alemã e sua influência no Brasil, atiçando os leitores que uma infiltração pró-Hitler estava em curso no país. Em "Diretrizes", sempre em forma de folhetim, Jorge Amado, na época um romancista principiante, escreveu "O ABC de Castro Alves". 
                  Em 1939, Carlos Lacerda que chefiava a sessão literária de "Diretrizes", deu uma entrevista para a revista "Observador Econômico", publicou um artigo onde contou "uns segredos" do Partido Comunista, que a Internacional Comunista lutava pela hegemonia na ANL. Um grupo de colaboradores da revista de Samuel Wainer, reclamou e alguns deles ameaçando pedir demissão. O PCB denunciou as atividades trotskistas de Carlos Lacerda as autoridades. Jorge Amado disse a Samuel Wainer "Veja no que deu você trazer esse crápula aqui para dentro" e Carlos Lacerda foi demitido e expulso do PCB. A presença do PCB no cotidiano na redação da revista era óbvio, participava de rodas animadas pelas músicas de Dorival Caymmi, que chegava ao grupo pelas mãos do seu amigo Jorge Amado, Astrojildo Pereira, fundador do PCB, Zé Lins, Graciliano Ramos, opositor histórico do Estado Novo e Érico Veríssimo. Também estava a poetisa Adálgisa Nery, casada com o político e jornalista Lourival Fontes, sergipano do município de Riachão do Dantas, o todo-poderoso chefe do DIP, chefe da censura, oferecia à revista algum tipo de segurança.
                      Essas rodas animadas ocorriam nas célebres domingueiras de Aníbal Machado, festejado pelos contemporâneos, rodeado pelos novos, reconhecido pela vanguarda modernista, animador cultural, aglutinador por excelência, em Copacabana e depois em sua nova casa na rua Visconde de Pirajá, 487, em Ipanema. Segundo depoimentos de quem o frequentou na hospitaleira casa, o prazer intelectual que emanava rendia mais frutos para os convidados do que para o anfitrião. Nessa casa branca de dois andares foi um dos pontos de encontro mais efervescentes da vida literária no país durante longos anos até a sua morte em 1964. Nesse endereço, o anfitrião recebia sempre aos domingos no final da tarde, alguns dos grandes nomes da cultura e da arte brasileiras, entre os mais assíduos constam, entre outros, Clarice Lispector, Cecília Meireles, Tônia Carrero, Paulo Autran, Gilson Amado, Vinícius de Moraes, Niemeyer, Portinari, Di Cavalcanti, Heitor dos Prazeres e Guignard. Inspirado na famosa feijoada de sábado de Álvaro Moreira, na rua Xavier da Silveira, 99, em Copacabana, em sua estupenda biblioteca, com centenas de volumes, ocorriam magníficos saraus, onde marcavam presença na casa, em uma só noite, podiam ser encontrados Carlos Lacerda, Olegário Mariano, Aníbal Machado, Rubem Braga, Raul Bopp, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Érico Veríssimo e o Barão de Itararé.
                   O desenvolvimento dos jornais adquirindo importância editorial e de grandes reportagens iria moldar as revistas nas próximas décadas. "O Cruzeiro", de Assis Chateaubriand, no dizer certo de Gilberto Amado, só realizou sua obra porque se locomovia em avião, publicava o que havia de melhor entre os jovens literatos como Mário de Andrade e Jorge Amado. Em março de 1939 circula o jornal carioca "Meio-Dia" de direção do Joaquim Inojosa, com artigos de Oswald de Andrade, Jorge Amado e Joel Silveira. Após o pacto de não-agressão entre União Soviética e Alemanha em agosto de 1939 a junho de 1941, suas páginas trazem artigos simpáticos ao nazismo, irritando a militância comunista do jornal que colaborava no suplemento literário de cara feia, mas que faziam em nome do partido comunista. Oswald de Andrade, em seus artigos, não faltaram ataques a Plínio Salgado e ao integralismo, além de literatura e modernismo, entre outras coisas, o clima de intimidação e terror do "Estado Novo". Já a revista "Fon! Fon!", habitualmente dedicada a amenidades, onde brilhavam subliteratos, passou a publicar, sob a direção de Gustavo Barroso, líder integralista, fotos de desfiles militares na Alemanha e elogiar Hitler, em especial pela queima de livros esquerdistas, na campanha contra a "arte degenerada".
       
Stefan Zweig 
       Em 1940 chega ao Brasil fugindo do nazismo na Europa o famoso escritor austríaco de origem judaica, Stefan Zweig e sua esposa Lotte Zweig e se estabelecem em Petrópolis. Desde a década de 1920 era um dos escritores mais famosos e vendidos do mundo. Nasceu em Viena em 1881, seu primeiro livro de poemas foi publicado em 1901. Estudou filosofia e literatura na Universidade de Viena. Em fevereiro de 1942, aos sessenta anos, se suicidou em sua casa em Petrópolis, junto com a esposa, por desgosto da guerra.
           Jorge Amado do exílio no Uruguai escreveu um artigo condenando o suicídio, que "Zweig perdera a perspectiva diante do nazismo e que não havia mais lugar no mundo para escritores como ele". Aqui no Brasil, em 1941, Zweig lança a obra "Brasil, País do Futuro", criando o epíteto nacional, sendo sucesso de vendagem, mas a crítica recebeu de modo negativo, por ser ufanista demais num período de ditadura. O livro, prefaciado de forma calorosa por Afrânio Peixoto, foi objeto de boas críticas, mas sua ideia de "país do futuro", não recebeu uma acolhida muita inflamada. Em certos círculos a reação foi bastante fria e até francamente hostil.
        Circulavam rumores de que Zweig, teria recebido uma encomenda muito bem remunerada do governo Vargas. Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga e outros escritores diziam que o livro foi encomendado pelo Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP e criticaram Zweig por supostamente receber apoio do regime Vargas. Corria o boato entre os escritores de esquerda que fora encomenda do DIP e muitos condenaram o livro no escuro sem ler por puro sectarismo. Zweig, consciente dessa hostilidade, se defendeu na revista semanal "Vamos Ler", que escreveu esse livro com "independência e entusiasmo", que quando viu o presente percebeu o futuro deste "país admirável". 
Aranha do Brasil,
capa da Time
 em 1942.
        Zweig já havia estado no Brasil algumas vezes, a primeira vez em agosto de 1936, a convite do governo, onde passou 10 dias fazendo palestras e realizando passeios, regressando a Europa publicou sobre sua primeira experiência no país, em "Pequena viagem ao Brasil." N
uma de suas chegadas ficou lisonjeado ao ser recebido por Oswaldo Aranha, que na verdade o ministro viera ao cais do porto receber um amigo que chegava no mesmo navio. Stefan Zweig encontrou-se com Oswaldo Aranha em diversas ocasiões, Aranha, apesar de ser ministro de Vargas, apoiava os escritores e os artistas, era frequentador assíduo da Livraria José Olympio, mantinha uma relação de admiração com seu conterrâneo Érico Veríssimo. João Guimarães Rosa, diplomata de carreira, era admirado pelo seu chefe no Ministério das Relações Exteriores.
           Manuel Bandeira, Mário de Andrade e Jorge Amado o encontrariam em diversas oportunidades. Oswaldo Aranha, fora de suas atribuições, intervém para permitir a circulação do romance "Cacau" de Jorge Amado que havia sido apreendido pela polícia em 1934. Oswaldo Aranha foi um gigante no plano internacional, tirou o Brasil dos efeitos da crise mundial de 1929, como ministro da Economia de 1930 a 1934, e posteriormente como ministro das Relações Exteriores se posicionou firme ao lado dos aliados contra os países do eixo em plena ditadura Vargas e após a guerra, Aranha na ONU ajudou na criação do Estado de Israel. 
               Em 1941, Dorival Caymmi lança "É Doce Morrer no Mar", a música foi composta na casa do coronel João Amado de Faria, durante uma reunião de amigos de Jorge Amado, o compositor se inspirou no romance "Mar Morto", sobre a vida dura dos mestres de saveiros, pescadores do cais do porto de Salvador, suas relações com o mar e com Iemanjá. Dorival ensaiava a primeira parte "É doce morrer no mar, nas ondas verdes do mar" quando o romancista completou a canção onde o marinheiro embarcou de noite e não voltou, foi se afogar no colo de Iemanjá, triste noite para sua amada, a sereia do mar levou o bonito marinheiro. Nesse mesmo ano marcado pela violência do Estado Novo, Jorge Amado refugia-se na Argentina, onde começou a redigir "O Cavaleiro da Esperança" que relata a vida de Luís Carlos Prestes.
     
              Em 19 de junho de 1942 no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, foi encenada a peça "O Anúncio feito a Maria" de 1912, de Paul Claudel, diplomata e dramaturgo, irmão da escultora Camille Claudel, durante a turnê de propaganda 
para o governo de Vichy, pela trupe de Louis Jouvet, ator, diretor e professor que influenciou gerações de atores em todo o mundo. Durante a ocupação alemã em Paris, Louis Jouvet, graças ao seu prestígio, obteve apoio da embaixada alemã, para uma excursão pela América Latina, já marcada fazia bastante tempo, entre 1941 a 1944, ele montou a peça "Ondina" do amigo Jean Giraudoux, escritor e diplomata, em Buenos Aires, Montevideu, São Paulo e Rio de Janeiro. 
                       Na peça encenada no Municipal de Paul Claudel, um "mistério" em quatro atos e um prólogo, atuaram a atriz belga Madeleine Ozeray, atriz da trupe e companheira de Louis Jouvet e Léo Lapara, ator francês e comediante, que se tornou biógrafo de Louis Jouvet. Lapara conheceu Vera Gibson Amado, filha de Gilberto Amado e a convidou para integrar a companhia divulgando o teatro francês pelo continente americano numa série de apresentações que durou até a libertação da França, retornando para Paris, no fim de 1944, onde Louis Jouvet reassume o Teatro de l'Athénée. Vera e Lapara se casam e ela segue com ele para Paris, iniciando sua carreira de atriz na França fazendo parte da companhia de teatro de Louis Jouvet no Teatro de l'Athénée junto com Léo Lapara.
     
Baependi 
            A costa de Sergipe foi palco de três naufrágios entre os dias 15 e 16 de agosto de 1942, durante a Segunda Guerra Mundial.  Na noite do dia 15 de agosto de 1942, no litoral sul sergipano, o famoso submarino nazista alemão U-507, comandado por Harro Schacht, iniciou uma série de ataques a navios brasileiros que se estendeu pelo dia 16 e 17 de agosto, totalizando cerca de 650 vítimas de 6 navios entre eles quatro navios de passageiros: o Baependi, o Araraquara, o Aníbal Benévolo, no litoral de Sergipe e o Itagiba e dois cargueiros, no litoral da Bahia. 
                       Por toda a extensão das praias de Sergipe apareceram os cadáveres e os restos dos navios torpedeados. A costa do Saco, da Caueira, em Estância, do Mosqueiro, da Barra dos Coqueiros, ilha em frente a Aracaju, receberam os corpos e restos de corpos, juntamente com escaleres, baleeiras e tábuas, resultado da operação de guerra alemã. Os sobreviventes foram levados para Estância e Aracajú e o fato causou revolta e comoção nacional. Em Estância os moradores foram acordados de madrugada e se mobilizaram para atender as vítimas semi-nuas dos naufrágios fornecendo roupa e alimentação, muitos foram levados para a Santa Casa em Aracaju em estado de choque. Pela manhã no Palácio do Governo, Pedro Viera de Mattos, marido de Frieda Amado do ramo de Pacífico de Faria Amado, era o Chefe de Polícia do Estado, função hoje ocupada pelo Secretário de Segurança, despachava com o governador, o general Augusto Maynard Gomes quando um investigador entra na sala aos gritos: "Estamos sendo atacados e as praias estão cheias de cadáveres 'mortos'!".        
            Em 1942, Jorge Amado e outros militantes da causa comunista passaram a ser tolerados pelas autoridades brasileiras. Pressionado pelos Estados Unidos, Getúlio Vargas, que outrora flertara com o nazifascismo, declarara guerra à Alemanha, Itália e Japão. Forçado pelos EUA a romper seu namoro com a Alemanha, o governo Vargas dá uma guinada ficando Brasil e União Soviética do mesmo lado enfrentando o nazifacismo. No Rio de Janeiro tal fato foi ruidosamente comemorado por um grupo de amigos comunistas entre eles Joel Silveira, Moacir Werneck de Castro, Carlinhos Niemeyer, Sérgio Porto e João Saldanha, saíram para quebrar o Bar Berlim, que acabou mudando de nome, mais tarde seria o Bar Lagoa. Jorge Amado que estava na Argentina com outros comunistas brasileiros exilados, a maioria ex-oficiais militares, que retornaram com a esperança de lutar pela pátria, mas foram detidos e condenados a cumprir penas resultantes da revolta de 1935. Jorge volta ao Brasil para se empenhar na luta ideológica, em prol da causa democrática e foi mandado para um campo de detenção, sendo liberado com a condição de permanecer em Salvador, apresentando-se semanalmente numa delegacia local e sem permissão para deixar a Bahia. Com a abertura política, em razão da guinada pró-nações aliadas, Jorge Amado passa a assinar uma coluna no jornal soteropolitano "O Imparcial", informando aos leitores dos acontecimentos mais recentes do conflito mundial, munido sempre de comentários em favor da causa anti-nazi-fascista.
Jacinta Passos
Jacinta Passos, jornalista e poetisa, que lançou em 1942, o livro "Nossos Poemas", e colaborava na revista "Seiva", onde escrevia sobre política nacional e internacional, é convidada por Jorge Amado para assinar uma página feminina, no jornal "O Imparcial". Através de Jorge, Jacinta conhece o irmão, James Amado e passaram a namorar.
Família Passos
 Em 1944, James Amado casou com Jacinta Passos em São Paulo, que foi mãe de Janaina Amado. Jacinta Passos foi poeta elogiada pelos principais críticos de seu tempo, nascida em 30 de novembro de 1914, em Cruz das Almas, Recôncavo da Bahia, educada em tradicional família católica, filha de Manoel Caetano da Rocha Passos e Berila Eloy Passos, seu avô paterno foi duas vezes senador na época da província da Bahia.
Notória por sua história de vida e engajamento na política e nas artes, especialmente na poesia, Jacinta rompeu barreiras no início da década de 40, como jornalista e poetisa em Salvador. Colaborou também com jornais e revistas do Rio de Janeiro e de São Paulo. Jacinta Passos lançou quatro livros entre os anos de 1942 e 1958: "Nossos Poemas", "Canção da Partida", "Poemas Políticos" e "A Coluna" em homenagem a Prestes. O livro "Canção da Partida" teve ilustração de Lasar Segall. Sua poesia foi elogiada por Antônio Cândido, Mário de Andrade, Gabriela Mistral, poetisa, educadora, diplomata e feminista chilena, agraciada com o Nobel de Literatura em 1945, Roger Bastide, Aníbal Machado entre outros. Com James Amado, Jacinta Passos foi ligada ao PCB a partir de 1945. James Amado era integrante da área de cultura do PCB, junto com intelectuais como Astrogildo Pereira, Jorge Amado, Afonso Schmidt, Eneida Moraes, Artur Neves, Caio Prado Jr. e Elias Cha. Nos anos 60, após a separação com James Amado, Jacinta Passos foi viver em Barra dos Coqueiros, localizada na região metropolitana de Aracaju, na época uma pequena vila de pescadores.
James Amado casou mais duas vezes, com a arquiteta Gisela Magalhães, que se destacou no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN em Brasília, onde começou a trabalhar em 1972, e posteriormente como curadora independente em várias instituições públicas pelo Brasil, junto com Lina Bo Bardi, arquiteta modernista que projetou o MASP e Janete Costa ajudou a construir a constituição da identidade nacional moderna brasileira direcionado à valorização do patrimônio popular na arquitetura de interiores e nas exposições. O terceiro casamento de James foi com Luiza de Medeiros Ramos Amado, filha do escritor Graciliano Ramos e Heloísa Leite de Medeiros. James Amado formado em sociologia e política, foi membro da Academia de Letras da Bahia, por 23 anos, teve dois livros publicados, o romance "Chamado do Mar" e o "Levante do Posto", "era um grande escritor, mas não exercia", segundo a diretora da Fundação Casa de Jorge Amado, no Pelourinho, Myriam Fraga, a quem James apoiava muito.
Joelson Amado cursou medicina no Rio de Janeiro, se tornando pediatra. Numa viagem a São Paulo em 1945, para visitar o irmão Jorge Amado, conheceu a paulista Fanny Rechulski, secretária no Partido Comunista, com quem se casou em 27 de março de 1948. Fanny Rechulski é de origem judaica e nasceu em 1924. Os Rechulski se estabeleceram no Brasil vindos da região de Bessarábia, na atual Moldávia, que pertencia a Romênia e fazia parte do antigo Império Russo. Muitas famílias de judeus da Polônia, Lituânia, Hungria e Rússia chegavam ao Brasil via Inglaterra e esses imigrantes estavam fugindo de seus países por causa da grande onda anti-semitismo reinante na Europa Oriental. Com a abolição da escravatura em 1888, o Brasil abriu as portas para a imigração européia, oferecendo terras e passagens. Entre as famílias judias que se estabeleceram em São Paulo nesse período estavam os Klabin, os Lafer, os Gordon e os Rechulski.
Melaine Rechulski, tia Nica
Foto: Thomaz Farkas
Entre os Rechulski que foram para São Paulo estava Moisés Rechulski, que conheceu Clara que também veio com sua família da região da Bessarabia. Clara era Berezovski, nome de solteira, hoje os Berezovski se tornaram uma família enorme. Moisés e Clara tiveram Fanny, Max, a Melanie, mais nova, conhecida como Tia Nica, uma psicóloga muito badalada, que casou com Thomaz Farkas, um intelectual bem conhecido, de origem húngara, cineasta, fotógrafo, que era dono na rede de lojas Fotóptica, de fotografia, ótica em geral, muito bem estabelecido.
Max Rechulski, irmão de Fanny, foi diretor da Panair do Brasil, dos empresários Celso da Rocha Miranda e Mario Simonsen. Com o fechamento da Panair do Brasil pelos militares em 1965 por perseguição política aos empresários que também eram donos da Tv Excelsior, também fechada, Max Rechulski foi para a Suiça, pai de Vera Rechulski, nascida em São Paulo, casou com o empresário colombiano Julio Mario Santo Domingo Jr. com quem teve Tatiana Santo Domingo Rechulski que casou com Andrea Casiraghi, filho mais velho do segundo casamento da princesa Caroline de Mônaco com o esportista e empresário italiano Stefano Casiraghi que morreu tragicamente numa competição de lancha em Mônaco em 1990 aos 30 anos.             
                No dia 26 de janeiro de 1945, o 1° Congresso Brasileiro de Escritores de Literatura ocorrido em São Paulo no Teatro Municipal, foi presidida por Aníbal Machado, sua posição transparente a respeito, terminou por ser fatal à ditadura getulista, onde exigiu liberdade de expressão, volta à legalidade e eleições livres. Os liberais, o pessoal da UDN, os comunistas e todos que estavam contra o Estado Novo aderiram ao Congresso. Jorge Amado e Oswald de Andrade, foram criticados por Guilherme Figueiredo, no Congresso de Escritores, pelo seu "estranho passeio" pelas páginas do "Meio-Dia", que ficou conhecido como "jornal favorável a Hitler", pertencente ao empresário Joaquim Inojosa, que publicava um suplemento literário dirigido por Jorge Amado. O jornal havia sido subsidiado pela agência alemã Transocean.
            Participaram representantes de 21 estados e 16 países. Jorge Amado chefiava a delegação baiana do Congresso, uma das maiores, com quase 30 participantes, entre eles, escritores de tradição, como Afrânio Peixoto, intelectuais emergentes como João Mangabeira e Luiz Vianna Filho, os rapazes da Academia dos Rebeldes, Édison Carneiro e Sosígenes Costa, além de Arthur Ramos, Odorico Tavares, James Amado e a esposa Jacinta Passos. Genolino Amado participa pela delegação sergipana. Jorge Amado que havia se separado de Matilde em 1944, após onze anos de casamento, no Congresso conheceu Zélia Gattai, uma moça de origem italiana-anarquista, e se uniram poucos meses depois. Durante os intervalos do Congresso havia muita paquera, sendo o campeão de conquistas o Vinícius de Moraes.

Neruda, Prestes e Jorge Amado, 1945.
               Com o fim da guerra em maio, a União Soviética cresceu muito no mundo inteiro, trazendo a ideia da vitória do socialismo. A expansão do comunismo projetara-se no predomínio intelectual da esquerda. Aqueles que haviam combatido o nazifacismo, formavam uma nova elite moral em toda a Europa. A intelectualidade conservadora que compactuava com o Eixo ficou em silêncio. 
No Brasil, o Partido Comunista tinha os melhores da cultura nacional, na poesia, na literatura, na pintura, no teatro, e a ditadura Vargas começou a se enfraquecer com a anistia, Luís Carlos Prestes, Carlos Mariguella e Agildo Barata são soltos. Prestes, que já tinha uma tradição histórica, era uma figura lendária, depois de nove anos preso, sua liberdade foi algo fenomenal, seus comícios no Pacaembu em São Paulo com a participação de Pablo Neruda que lê para mais de cem mil pessoas poema em sua homenagem e em São Januário no Rio de Janeiro em 23 de maio, foram extraordinários. O estádio São Januário e os dirigentes do Vasco, acusados durante anos de servir a Ditadura Vargas, cedendo o estádio para os desfiles de 1° de maio, foi o palco de uma grande manifestação de oposição. 
São Januário 
      Quando a ditadura de Vargas desabou, em 29 de outubro de 1945, depois de quase oito anos de violência, tortura e opressão, a redemocratização foi saudada com uma explosão de euforia popular. A recepção aos líderes democráticos de volta do exílio juntou multidões no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Recife. Com a democracia, volta a legalidade do partido comunista e no rastro do movimento de massas, se realizou uma cerimônia pública no Rio de Janeiro no auditório do Instituto Nacional de Música, para entregar aos intelectuais simpatizantes do partido, as carteirinhas membros da organização, entre eles os escritores Jorge Amado, Graciliano Ramos, Monteiro Lobato, Caio Prado Júnior, o cientista Mário Schemberg e os pintores Di Cavalcanti, Portinari e Lasar Segall. 
Após a guerra, em 1946, Gilberto Amado foi designado delegado do Brasil na recém-fundada ONU, presidindo por diversas vezes a Comissão de Direito Internacional desta organização. Gilberto Amado participa com Pio Corrêa e Antônio Corrêa do Lago da delegação do Brasil presidida por Raul Fernandes da terceira Assembleia Geral da ONU, realizada em Paris de setembro a dezembro de 1948, com a missão de dar seguimento ao desenvolvimento do direito internacional da Carta das Nações Unidas. A Assembleia Geral da ONU, na sua terceira sessão, examinou o texto e em 10 de dezembro de 1948, a Assembleia Geral proclamou a versão final da Declaração dos Direitos Humanos por 48 votos, nenhum contra e oito abstenções. O embaixador Gilberto Amado se tornou um mito raramente retornando ao Brasil, era famoso pelo seu mau humor, mas era irrestível quando se propunha a enfeitiçar as pessoas. No Itamaraty era raro um diplomata não saber contar uma história interessante protagonizada pelo terrível Gilberto, terror dos terceiros-seretários desavisados.
Amado esperava ser nomeado para a Comissão Jurídica desta Assembléia, mas Raul Fernandes preferiu o ministro Camillo de Oliveira. Gilberto não se conteve, da decepção passou a dizer impropérios contra o colega, chamou de medíocre e iletrado. Gilberto deu um show de prepotência, todas aquelas ofensas geraram um grande desconforto na delegação brasileira, entre eles Juracy Magalhães, então deputado federal, que tinha sido governador da Bahia quando o irmão de Gilberto, Gileno Amado era seu secretário de Fazenda
. No dia seguinte, Juracy não se conteve, e desabafou ao encontrar Gilberto Amado num café de Paris, "você é um mal-educado. Seu destempero contra o ministro, você abusou dele, se fosse comigo lhe quebrava a cara" e Gilberto pediu para que Juracy tirasse o dedo do seu rosto e Juracy continuou "Merecia que alguém lhe desse uma boa surra". O clima esquentou, as pessoas em volta começaram a notar. Juracy considerava Gileno Amado, seu ex-secretário, um gentleman, não entendia o destemperado do irmão Gilberto.
Gilberto Amado e Rafael Lemkin 
A Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio foi adotada por unanimidade que aprovou o texto em 9 de dezembro de 1948 em Paris.  A cerimônia de assinatura foi dois dias depois no Palais de Chaillot que acolheu a terceira Assembléia Geral das Nações Unidas. O advogado polonês Rafael Lemkin, que cunhou o termo geno-cídio, foi o primeiro jurista a perceber que o massacre armênio na primeira guerra pelos turcos foi um crime que juridicamente não tinha nome e passou a fazer campanha desde a época da Liga das Nações, para um tratado internacional que tipificasse o massacre em massa de um grupo étnico ou religioso como crime de Genocídio. Por pressão da URSS e dos países do leste europeu, foi retirado o termo "grupo político". Há também o problema da aceitação do princípio do que é agressão. Gilberto Amado passou a tratar do assunto do problema da aceitação do princípio do que é agressão no Comitê Jurídico das Nações Unidas, onde era muito estimado e gostavam das suas ironias.


Em 1949, Genolino Amado junto com outros autores teatrais como Guilherme de Figueiredo, Joracy Camargo e Bastos Tigre estrearam no Teatro Jardel, a revista dos dez autores, a peça "Brotinhos e Tubarões". O Teatro Jardel fundado por Geysa Gonzaga de Bôscoli foi pioneiro em 1948 criando o primeiro teatro de "bolso" situado na Av. N. S. de Copacabana, esquina com a Rua Bolívar. Apresentaram-se no palco do Teatro Jardel de Copacabana, Silveirinha, Badaró, Colé Santana, Dedé Santana, Costinha, Nélia Faria, Renata Fronzi, Wilza Carla, Carlos Gil, Rose Rondeli, Agildo Ribeiro, Haroldo Costa e outros. Em 1954 foi apresentado a comédia o “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna, onde Agildo Ribeiro interpreta o João Grilo. Em 1957 durante as apresentações da revista "Tutú A Mineira", Carlos Gil se separa de Rose Rondeli para se casar com Wilza Carla. No elenco de "Brotinhos e Tubarões" também estava Dercy Gonçalves, a peça idealizada por Luís Peixoto foi êxito de crítica, Paschoal Carlos Magno escreveu: "Renata Fronzi (que estreava como vedete) vale sozinha todo o espetáculo".
Vera Gibson Amado segue atuando na companhia de teatro de Louis Jouvet e casada com Léo Lapara até 1947, quando Leo Lapara e Louis Jouvet foram fazer o filme "Quai des Orfèvres", no Brasil "Crime em Paris", do diretor de cinema Henri-Georges Clouzot, no set de filmagem, Vera se apaixonou por Clouzot e se separou de Lapara, indo morar com Clouzot, casando em 1950. Clouzot, entre outros, se destacou entre os diretores que fizeram o nome durante a ocupação alemã na França, realizando dois filmes para a Continental Films, empresa controlada pelo produtor alemão em Paris, Alfred Greven. Greven contratou diretores e atores de primeira linha. O primeiro filme de Clouzot na Continental foi bem recebido "O assassino mora no 21", de 1942, um film noir, suspense policial, um dos melhores já rodados na França, pela inteligência da adaptação, e pela forma de criar uma atmosfera pesada peculiar a Clouzot.
O segundo filme "O Corvo", um filme mais político, de 1943, foi odiado pela resistência francesa e considerado propaganda antifrancesa, que lhe valeu após a libertação da França, um afastamento dos cinemas por 2 anos e o filme proscrito. Inspirado na história de uma mulher que passou cinco anos enviando cartas anônimas venenosas, caluniando pessoas proeminentes numa vila. Clouzot soube recriar a vida sufocante de uma cidadezinha do interior, o tema da carta anônima é magistralmente explorado. O que seria um filme de suspense em tempos normais, em tempos de ocupação, autoridades nazistas passaram a receber cartas anônimas denunciando membros da resistência e judeus. Após a guerra sob pretexto de que o filme havia sido rodado pela firma alemã Continental, e de que se tratava de uma obra de propaganda antifrancesa, Clouzot foi impedido de filmar por algum tempo.
Mas Clouzot foi um cineasta admirado e se transformou em um dos mais célebres diretores do cinema europeu nos anos 40 e 50, rivalizando com Hitchcock como sendo "o Mestre do Suspense". Clouzot era muito amigo de Picasso realizando em 1956 o filme "O Mistério de Picasso", sobre o processo de criação do pintor. Em maio de 1950, Clouzot e Vera Amado vieram ao Brasil, como lua de mel e ficaram na Bahia. Em Salvador, na casa de Gileno Amado, na av Princesa Isabel no Porto da Barra, Clouzot conhecido internacionalmente, foi recebido com festa pela intelectualidade que promoveu encontros em sua homenagem e a Vera Gibson Amado. O cineasta francês pretendia fazer um filme em um ano, trazendo na bagagem 3,5 toneladas de equipamentos e 70 milhões de francos para fazer um filme, mas acabaram realizando uma reportagem para a Paris Match sobre o candomblé, "As possuídas da Bahia" publicada em maio de 1951 como uma parte exclusiva de um livro que Clouzot lançaria posteriormente. 
Paris Match, maio de 1951
                  O filme, por razões que permanecem desconhecidas, não foi realizado, talvez nem o próprio Clouzot tinha convicção do que pretendia produzir, apenas que o filme se chamaria “Le Brésil”, não tinha um roteiro definido e exibiria algo próximo de um diário de viagens. O equipamento e os técnicos voltaram no mesmo navio que havia deixado a França rumo ao Brasil, depois de dois meses sem obter a liberação alfandegária dos equipamentos. Depois da reportagem da Paris Match, a revista "O Cruzeiro" se sentiu na obrigação de fazer uma matéria semelhante, primeiro chamaram Pierre Verger para ceder seu material que negou, então enviaram o fotógrafo da revista José Medeiros para Salvador e em setembro de 1951, "O Cruzeiro" publica “As noivas dos deuses sanguinários”. A reportagem desencadeou uma polêmica que mobilizaram intelectuais como o sociólogo francês Roger Bastide da Faculdade de Filosofia de São Paulo que classsificou a reportagem como sendo sensacionalista que enfureceu a comunidade afro-brasileira.
Maria Célia Amado, no esplendor do seu tão bonito corpo abrigava também a beleza de sua alma, em 1950 na luxuosa residência da Av Princesa Isabel, no Porto da Barra em Salvador, do seu ilustre pai, o banqueiro Gileno Amado, chegavam até ela personalidades de fama internacional como Jacques Fath, Jean-Louis Barrault, Madelaine Rosay, Henri Georges Clouzot, marido da sua famosa prima Vera Clouzot, atriz principal do grande filme "Le salaire de la peur", em português "O Salário do Medo", de 1953, que também disputava com ela o prestígio dos admiradores.
Maria Célia era professora da Escola de Belas Artes da Bahia, fez parte de um grupo de artistas que fizeram história na arte baiana como Mario Cravo Junior, Carybé, Carlos Bastos, Genaro de Carvalho e outros. Desenhista, pintora e artista gráfica, ganhou maior visibilidade em 1955, com uma pintura mural para o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, a Escola Parque, em Salvador.
Maria Célia Amado Calmon
Maria Célia casou com João Augusto Calmon Du Pin e Almeida, filho de Francisco Marques de Góis Calmon, que foi governador da Bahia, entre 1924-1928, nascido em Salvador,
em 27 de junho de 1918, diplomou-se engenheiro-civil pela Escola Politécnica da Bahia, atuou como engenheiro no escritório Plano de Urbanismo da cidade do Salvador. Transferiu sua residência para São Paulo, foi diretor da Bahiana-Brasil-Gás e do Banco Econômico. Os Calmon, passaram da França para Portugal, chegando a Lisboa, Bertrand Calmon, seu filho, João Calmon Du Pin, foi o primeiro a chegar ao Brasil, particularmente na Província da Bahia no século XVII. Em 1796, em Santo Amaro, no Recôncavo baiano, nasceu Miguel Calmon Du Pin e Almeida, oitava geração dos Calmon no Brasil, futuro Marquês de Abrantes, que viria a realizar brilhante carreira política no Império.
Gileno
Em abril de 1950, ocorre o lançamento da candidatura de Getúlio Vargas à Presidência da República. Gileno Amado mais uma vez concorre ao cargo de deputado federal pela UDN e foi eleito
, após encerrar o mandato em 1955 deixa a vida política para se dedicar exclusivamente com o desenvolvimento de Itabuna.
Como empresário, Gileno prestou relevantes serviços à região cacaueira, doando uma área de 160 hectares de terra para a implantação da Ceplac no sul da Bahia. Contribuiu para que o então distrito e hoje município de Jussari ganhasse a primeira hidroelétrica particular.
              Numa manhã de maio de 1951, pela Rádio Mayrink Veiga, César Ladeira, uma das mais belas vozes da história do rádio no país, continuava com sua crônica diária escrita por Genolino Amado, onde criticava os jogos de bola na praia de Copacabana, porque incomodava os banhistas. O Rio, hoje, é pura lembrança, a cidade era exaltada diariamente no rádio pela voz de um paulista, lendo um sergipano, todo o Brasil amava o Rio, numa crônica que terminava sempre apaixonadamente "Cidade MA-RA-VI-LHO-SA". Na mesma emissora, apresentado por longo tempo a “Biblioteca no Ar” e "Ouvindo e Aprendendo" criados por Genolino Amado que por duas vezes "Biblioteca no Ar" obteve prêmio como o melhor programa cultural da rádio brasileira.
Graciliano, Neruda,
Portinari e Jorge Amado
Em 1952, de regresso ao Chile, após o governo chileno restabelecer as liberdades políticas do Partido Comunista Chileno, passou horas no Rio de Janeiro, o poeta Pablo Neruda, depois de quatro anos de exílio na Europa e União Soviética, volta a pátria chilena por exigência do clamor popular, o poeta de "Canto Geral", foi recebido por um grupo de amigos num almoço íntimo com escritores e artistas entre eles Graciliano Ramos, Jorge Amado e Portinari, após homenagem que lhe foi prestada. Neruda retornaria ao país, em Goiânia para participar do 1° Congresso Nacional de Intelectuais em 1954.

"Santa Ceia" de Portinari

Gilberto Amado e seu secretário
 diante da "Santa Ceia" de Portinari
Inaugurou-se após dez anos sem expor individualmente no Rio de Janeiro, a exposição Portinari, com 100 obras no Museu de Arte Moderna, no Ministério da Educação, em 29 de abril de 1953. A sociedade carioca, que havia se afastado quando o pintor ingressara no Partido Comunista, comparece em massa, plenamente reconciliada com Portinari. Marcaram presença o escritor José Lins do Rego, o crítico de arte do Correio da Manhã Jayme Mauricio, a engenheira e feminista Carmen Portinho e a jornalista e empresária Niomar Moniz Sodré, engajada na criação do MAM, entre outros. Gilberto Amado escreve o catálogo da exposição, "o que maravilha em Portinari é a sua unidade, sua diversidade é como uma árvore com ramos e a raiz é uma só mergulhada em profundeza".
No ano seguinte em fevereiro Gilberto Amado de passagem por São Paulo, onde não ia há vinte e quatro anos, Amado quis conhecer toda obra dos paulistas nesse longo período. Percorreu ruas e avenidas, parques e praças, viu arranha-céus e fábricas, e para fechar o programa a tarde visitou a 2° Bienal de São Paulo, no complexo do Parque Ibirapuera, projetado por Oscar Niemeyer. A 2° Bienal ocorreu entre dezembro de 1953 e fevereiro de 1954, e ficou conhecida como a Bienal de Guernica, de Pablo Picasso e mais 65 obras do mestre do cubismo que foram apresentadas ao público.
Portinari visitando a Exposição Cubista,
 ao lado 
de Gilberto Amado.
No rastro da Bienal, foi organizada no Rio de Janeiro, em março de 1954, a Exposição Retrospectiva do Cubismo, no Museu de Arte Moderna.
O vernissage contou com a presença do novo embaixador da França e sra. Bernard Hardion, comparecendo personalidades do mundo oficial, diplomático, político, artístico e social, entre eles Gilberto Amado e Portinari. A exposição de um magnífico conjunto de telas, esculturas e desenhos do cubismo contribui no desenvolvimento artístico da capital federal através do seu mais novo dinâmico organismo de cultura: o Museu de Arte Moderna do Rio.
Genolino 
O jornalista, escritor e cronista Genolino Amado em 1954 foi nomeado pelo presidente Getúlio Vargas como diretor da Agência Nacional de Notícias, conquistando extraordinário sucesso com suas "Crônicas da Cidade" transmitidas pela Rádio Nacional. Em seu aniversário no dia 3 de agosto, terça-feira, recebeu a visita na Praça Mauá, sede da central estatal, do amigo e Ministro da Justiça, Tancredo Neves. Tancredo morava na rua Tonelero em Copacabana, a três quadras da casa de Carlos Lacerda, principal opositor do governo, líder da UDN e que sofreria um atentado na porta de casa na noite do dia 5, matando um major da aeronáutica azedando a crise política transformando-se numa crise militar que culminou no suicídio de Vargas em 24 de agosto.
Tancredo acompanha as primeiras diligências e as providências iniciais do inquérito policial, mas logo percebe que forças poderosas se organizavam para levar ao banco dos réus o presidente Getúlio Vargas. O motorista do ponto de táxi da rua Silveira Martins, ao lado do Palácio do Catete estava preso no Quartel da PM na Lapa, afirmando que levou os assassinos na rua Tonelero, Tancredo foi chamado e ao chegar encontrou o brigadeiro Eduardo Gomes saindo, naquele momento Tancredo sentiu que a conspiração estava montada. O taxista deu o nome de uma pessoa da guarda pessoal de Getúlio chamado Climério, que tinha ligações com Gregório Fortunato, chefe da guarda e intimamente ligado a Getúlio.
Desde a campanha em 1950, setores conservadores como a UDN de Carlos Lacerda, os militares na figura do brigadeiro Eduardo Gomes, candidato da UDN derrotado por Getúlio e a grande imprensa de Assis Chateaubriand conspiravam contra Vargas e sua pauta nacionalista que levou a criação por lei da Petrobrás em outubro de 1953 e instalada em maio de 1954 e futuramente a criação da Eletrobrás. No dia 1° de agosto de 1954, a Petrobrás assumiu o controle de toda a indústria nacional de petróleo, os campos petrolíferos, as refinarias e os navios petroleiros e coincidentemente no mesmo dia um ataque especulativo estrangeiro derruba o preço do café brasileiro na bolsa de NY.
Em 1955, Vera Clouzot atuaria novamente num filme do marido Henri-Georges Clouzot, no clássico thriller "As Diabólicas", que atua também a atriz Simone Signoret que era casada com Yves Montand. Em 1953 Yves Montand tinha feito o "Salário do Medo" de Clouzot com Vera Clouzot. Durante as filmagens de "O Salário do Medo", em Nimes, uma cidade no sul da França em 1951, Simone Signoret acompanhava Yves Montand nas filmagens, nas folgas fazia compras com Vera Clouzot e enfrentava Henri Clouzot durante intermináveis discussões politicas quase sempre agressivas, já durante a filmagem de "As Diabólicas", será pior, Simone Signoret e Henri Clouzot vão se destestar cordialmente. Clouzot foi um cineasta admirado, temido e controvertido, em 1960 durante a filmagem de "A Verdade" com Brigitte Bardot, Clouzot a humilhou e até desferiu umas bofetadas no set.
Clouzot era despótico, reinava como um senhor absoluto no set de filmagens, com Brigitte Bardot, durante as filmagens de "A Verdade", que tinha de interpretar uma cena dramática, a chamou num canto e falou coisas tristes, horríveis que provocasse as lágrimas, um silêncio absoluto, Brigitte Bardot começou a rir nervosamente consternando a equipe. Clouzot furioso, chegou e aplicou sonoras bofetadas em Brigitte Bardot, que retribuiu imediatamente. Fora de si, Clouzot pisou nos pés descalços da atriz com o salto de seus sapatos que começou a chorar de dor, ele pediu imediatamente a câmera para filmar a cena das lágrimas. Assim era Clouzot, que não recuava diante de nada para atingir seus fins.
Apesar do sucesso de Clouzot, o sogro Gilberto Amado, muito ciumento, o detestava. Gilberto, Vera e Clouzot se encontravam na feijoada de sábado no Maison de l'Amérique Latine, para brasileiros que vivem na capital francesa, quando Clouzot se ausenta da mesa, Gilberto dispara, "ele é um chato, por que você não põe chifres neste homem? Você deve cornear este homem". Também em Paris, Gilberto Amado, Antônio Maria, Di Cavalcanti, Samuel Wainer, Rodrigo Mello Franco de Andrade passam a frequentar o obscuro Bar Anglais, em estilo inglês no subsolo do Hotel Plaza Athenée, na avenida Montaigne, depois que Vinícius de Moraes, instalou ali seu quartel-general, entre fins de 1953 e início de 1957, onde passou a ocupar o posto de segundo secretário da embaixada do Brasil. Todos os dias, às 18h05, o amigo e diplomata Souza Dantas o esperava em seu carro e vão direto ao Bar Anglais.
Do século XIX, podemos datar o início da memorialística brasileira, com Visconde de Taunay e Joaquim Nabuco, com "Minha Formação", antes havia cronistas, não memorialistas, mas foi a partir de Gilberto Amado que o gênero se impôs literariamente, com seu estilo e sua autonomia.
Será nos anos de 1950, após se aposentar em 1952, que Gilberto Amado em meio às suas múltiplas atividades, dará início aos livros de reminiscências, série que é um dos clássicos do gênero no Brasil. Respectivamente editado em 1954, 2° edição em 1958, "História da Minha Infância", saudado como um grande acontecimento no mundo das letras, em 1955 no Rio de Janeiro na concorrida sessão de autógrafos do lançamento de "Minha Formação no Recife", o segundo volume de suas memórias, Gilberto Amado contou com a presença do historiador José Honório Rodrigues e do escritor Manuel Bandeira. Gilberto Amado e Manuel Bandeira eram amigos fraternos desde a juventude em Recife.
Gilberto Amado e Manuel Bandeira foram amigos fraternos.
Esta foto, que mais tarde ganharia uma dedicatória a Bandeira,
 foi tirada na sessão de autógrafos de "Minha formação no Recife".

Gilberto Amado e
Manuel Bandeira
Depois vieram "Mocidade no Rio e Primeira Viagem a Europa", publicado em 1956, 3° volume das memórias, "Presença na Política" de 1958 e "Depois da Política" publicado em 1960, todos com o selo da editora José Olympio, e capas de Luís Jardim, em quase todas edições. Os lançamentos ocorriam na Livraria José Olympio na rua do Ouvidor, com a presença do amigo e editor José Olympio e seu antigo funcionário da livraria que todos conheciam como seu Castilho. A
trajetória de Gilberto Amado, rica e conturbada materializou-se, em síntese, nesses cinco volumes de memórias, sem dúvida a parte mais valiosa de sua obra literária.
Foi agraciado em 1956 com o prêmio Machado de Assis, o principal prêmio literário brasileiro pela Academia Brasileira de Letras, o historiador, etnógrafo, antropólogo, folclorista, advogado, jornalista, escritor e cronista Luís da Câmara Cascudo, pelo conjunto de sua obra. Para Gilberto Amado, mestre Cascudo passou a vida estudando inutilidades hoje indispensáveis. O que realizou ninguém realizou antes dele, por conta própria, sozinho, sem exemplos. Já para Jorge Amado, Cascudo é um mestre, no sentido amplo da palavra, "temos intelectuais de grande valor, mestre porém temos pouco".
Em 1956, o casal Gileno Amado e Amélia Tavares recebe do Papa Pio XII, o Grau de Comendador do Vaticano, pelas obras de filantropia realizadas pela Ação Fraternal de Itabuna criado pelo casal Gileno Amado e Amélia Tavares. O casal realizou obras filantrópicas importantes para a vida educacional e cultural de Itabuna.
Eles são os responsáveis pela criação da Ação Fraternal de Itabuna em 1947, a Faculdade de Filosofia, o Teatro Estudantil de Itabuna, a Fundação Gileno Amado, entre outros. Dona Amélia teve importante atuação na vida cultural e estudantil, através da Ação Fraternal de Itabuna, embrião da Universidade Estadual de Santa Cruz em Itabuna.
        Sérgio Britto e
  Fernanda Montenegro
 
Em 1956, o diretor teatral Sérgio Britto foi na TV Tupi e propôs à direção da emissora, um teleteatro e a proposta foi aceita. Surgiu o Grande Teatro Tupi nas noites de segundas-feiras ao vivo que teve grande sucesso de público, idealizado e dirigido por Sérgio Brito, as adaptações das peças de teatro para a TV eram feitas por Manoel Carlos, revelando uma geração talentosa e batalhadora de artistas como Fernanda Montenegro, Nathalia Timberg, Ítalo Rossi, Jô Soares, Suely Franco e Camila Amado, filha de Gilson Amado com apenas dezoito anos estreando em "O feijão e o sonho", de Orígenes Lessa, bem interpretada com Glauce Rocha e Aldo de Maio.

Em 1957, Gilson Amado apresentava na TV Tupi, programa de entrevistas, onde cada programa, uma personalidade notória é posicionada no centro de uma roda, um espaço para a apresentação de ideias sobre temas de interesse da população, foi um programa de tv precursor do Roda-Viva. Wilson Leite Passos, vereador do Rio de Janeiro se apresentou no programa no dia seguinte ao assistir uma peça de Nelson Rodrigues, onde no teatro sacou uma arma contra alguém que lhe chamou de palhaço, por ter declarado com sua voz de tribuno em protesto contra a peça "É um deplorável atentado à moral e aos bons costumes". No ano seguinte Nelson Rodrigues, afirmava no mesmo programa de Gilson Amado, "Minhas peças são obras morais. Deveriam ser encenadas na escola primária e nos seminários", para ele, era cômico que ninguém enxergasse o óbvio.
A história da educação em Brasília teve início em 1957, sob a coordenação da NOVACAP. Anísio Teixeira, educador de vanguarda, foi o principal mentor da educação do Distrito Federal, através do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos. Em abril de 1960, 57 professores foram contratados para lecionarem no Ensino Médio para os operários que construiriam Brasília, entre eles Gildásio Amado. Desde cedo Gildásio sentiu-se atraído pelos ideais da educação e logo tornou-se um nome consagrado no magistério brasileiro, sendo um profundo conhecedor dos problemas educacionais do País. Por muitos anos foi professor e diretor do Colégio Pedro II, lecionando também no ensino médio do Estado da Guanabara e na Faculdade Nacional de Filosofia da ex-Universidade do Brasil.
Lançado em 1958, pela Livraria Martins Editora, um dos mais célebres romances do escritor Jorge Amado, "Gabriela, Cravo e Canela" que representa um momento de mudança na produção literária do autor, que até então abordava temas sociais. O romance impusera o palavrão à literatura brasileira e Gabriela ao patrimônio erótico nacional. Na década de 1920, na pacata e rica Ilhéus, a obra traz o romance da sertaneja Gabriela com o comerciante árabe Nacib, no período áureo do cacau descrevendo as alterações da vida social com a abertura do porto aos grandes navios, trazendo sopros de renovação cultural, política e econômica numa sociedade arcaica e autoritária.
D.Amélia recebe a neta
e a filha com um quadro
Gileno desembarca em
seguida do avião da
Cruzeiro do Sul
 
          Em 1958, Gileno Amado passou um ano e meio em Paris com a filha Maria Célia Amado Calmon e a neta, visitando o irmão Gilberto Amado, tendo na ocasião, Maria Célia conhecido e convivido com Pablo Picasso, amigo de Henry Clouzot marido da sua prima Vera Amado Clouzot. Realizou cursos de História Geral da Arte no Museu do Louvre e de Estética e Ciência da Arte na Sorbonne. Maria Célia participou de várias exposições nos salões de Belas Artes na "Cidade Luz", onde expôs na Galeria Colette Alendy, tendo o Museu de Arte Moderna de Paris adquirido dois de seus quadros. Na volta  da França, Maria Célia executou diversos murais em São Paulo e Salvador. O reconhecimento pelo seu trabalho lhe rendeu inúmeros prêmios, como a Menção Honrosa na Bienal de São Paulo de 1959 e a homenagem da Escola de Belas Artes da Bahia, ao dar o seu nome a uma das suas salas.
Em 1959, Nelson Rodrigues, lança o romance "Asfalto Selvagem", publicado periodicamente como folhetim em jornal, onde ilustres entram e saem da história como temas de conversas soltas, era a maneira de Nelson, fazer colunismo social, político e crítica literária. O personagem Odorico precisa telefonar e alguém está usando o telefone, aos berros, "Você tem lido as memórias de Gilberto Amado? Não apresenta um canalha! Em toda a República, não vê um presidente patife, um ministro sem-vergonha, não enxerga uma prostituta na família brasileira".
 
Suplemento Dominical
do Jornal do Brasil
        
O ano de 1960, marcado pela guerra fria, o Itamaraty e o governo da Polônia patrocinaram a vinda ao Brasil do pianista polonês Malcunzinski, sensível intérprete de Chopin e o teatrólogo romeno Ionesco, o mestre do teatro do absurdo, muito em voga no ocidente. Através da atuação do embaixador Pio Corrêa, que atendeu pedido da filha do amigo Gilson Amado, Camilinha, que então iniciava-se na carreira de atriz, Ionesco apresentou no Copacabana Palace, a peça "O Rinoceronte", clássico que estreou em 1960, acompanha em tom de farsa trágica a estranha transmutação dos habitantes de uma pequena cidade em paquidermes, testemunhada por um único morador - um alcoólatra - que permanece na forma humana.
O teatrólogo romeno, naturalizado francês, Ionesco concedeu entrevista ao Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, publicado em 6 de novembro, no hall do Copacabana Palace, onde ao final da entrevista se declara "fascinado pelo Brasil" e pela "audácia de sua civilização". Pio Corrêa achou a peça insuportável, mas provou que seu anticomunismo não era monolítico e tinha exceções como Jorge Amado com quem teve outrora cordiais relações, Pio Corrêa não entendia como o sensual Amado podia admirar o glacial Stalin, que se tornou depois de morto um nome feio no partido comunista. A última vez que se encontraram foi na Av Rio Branco, onde Jorge ofereceu um livro autografado, depois o perdeu de vista.
Em 15 de dezembro de 1960, vítima de um ataque cardíaco, faleceu precocemente a atriz Vera Gibson Amado Clouzot, ou simplesmente Vera Clouzot, aos 47 anos, sendo enterrada no cemitério de Montmartre, em Paris, onde se encontram os famosos na França. Sua morte foi muito comentada na imprensa francesa e um choque para a família Amado. Seu último trabalho foi como corroteirista no filme "A Verdade", de 1960, dirigido por Clouzot, com Brigitte Bardot no auge da forma com 28 anos. Tal como a personagem do filme "Les Diaboliques", que se tornou sucesso mundial de público e crítica em 1955, onde a personagem interpretada por Vera morre do coração, a vida real imita a arte e sua curta carreira de sucesso foi interrompida, durou pouco mais de 10 anos, ao lado do marido e diretor francês Henri Clouzot, o mestre europeu do suspense.
Em Nova York no Central Park, num dia de sol, o doutor Tancredo Neves e Gilberto Amado passeavam, onde muita gente se exercitava e faziam exercícios essenciais para a saúde e a longevidade, eles estavam achando ótimo, Gilberto rindo, diz "bobagem, nunca vi elefantes fazendo ginástica e todo mundo sabe da longevidade paquidérmica deles!". Tancredo completa "Nem as tartarugas, Gilberto e muitas passam dos cem anos...". Gilberto Amado, sergipano da pequena Estância e universal como todo gênio, o das frases de efeito, que viveu grande parte de sua vida no exterior, repetia, "Quem não gosta do Brasil não me interessa".
Em outubro de 1961 ocorreu XVI Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York. Kennedy era o presidente e apesar da desestalinização feita por Nikita Khrushchov, a Guerra Fria comandava a política mundial, os EUA tramavam contra Cuba e Berlim já havia sido cortada pelos russos. Em 30 de outubro de 1961, a URSS testava a maior bomba nuclear já criada, a bomba Tzar, já na África, no Congo, o secretário geral da ONU, o diplomata sueco Dag Hammarskjöld morre num desastre de avião em 18 de setembro e o cosmonauta russo Iuri Gagarin foi a primeira pessoa dar a volta ao mundo no espaço em 12 de abril de 1961.
No Brasil, em agosto, as forças armadas forçaram o presidente Jânio Quadros a renunciar ao cargo, por livre decisão sua, cinco dias após visita de Che Guevara à Brasília, onde foi condecorado com a Ordem do Cruzeiro do Sul, dando origem a uma grave crise política nacional. A América Latina se inseria na Guerra Fria, e o anticomunismo se revigorava tendo Cuba como o novo inimigo a ser combatido. O vice João Goulart assume, amargando um parlamentarismo com Tancredo Neves sendo primeiro-ministro, evitando um golpe de estado por militares.
José Sarney, deputado federal, aos 31 anos em 1961 fazia parte da delegação brasileira então chefiada por Afonso Arinos de Melo Franco. que desembarcava em Nova York para essa Assembleia Geral das Nações Unidas. Sarney levava uma carta de recomendação do escritor Odylo Costa, Filho à Gilberto Amado que estava hospedado no mesmo hotel, o Black Stone. Membro permanente da Comissão do Direito Internacional, Gilberto também fazia parte da delegação brasileira como convidado. Para Sarney, Gilberto Amado era como fogo, ao seu lado podia se aquecer, mas se chegasse muito perto poderia ter graves queimaduras.
Gilberto convida Sarney e a jovem esposa Marly para jantar no bar do Black Stone hotel numa noite fria de domingo, Gilberto pergunta a Marly se ela já havia lido algum livro dele. Marly disse que não, Sarney se preparou para o pior, esperou uma reação intempestiva, mas Gilberto revelou calma e gostou da sinceridade presenteando com o livro de memórias "Minha Formação no Recife". Na mesa fez uma reclamação nostálgica, ninguém mais lia seus livros no Brasil, não eram mais editados e pediu a Sarney para dizer no Brasil que conheceu Gilberto Amado. Nos dias seguintes, Amado ligou várias vezes para saber a página que ela estava, obrigando Marly a ler sua obra.
Sarney ouviu de Amado, "Jamais entrou no meu estômago uma gota de leite", alegava que fazia mal, que leite é bebida de criança, adulto não deve tomar, e citou o exemplo da vaca, que dava coices no bezerro grande quando queria mamar. Sarney não concordava, era o alimento mais saudável da face da terra. Quando presidente da República, Sarney criou o Programa do Leite, distribuindo por dia, 8 milhões de litros de leite. Em 2018, Sarney relembrou do amigo Gilberto Amado ao saber que não havia leite na cesta básica do governo Bolsonaro e sim um quilo de farinha de mandioca para substituir o leite.
Sarney retornou a ONU em 1985 e falou como presidente num discurso que divergiu com o Itamaraty, que advertiu que a referência a Deus não era diplomática, que a ONU é laica com países de vários credos e que "o Brasil era um grande país mestiço que se orgulha da sua identidade" não era de bom tom. Sarney recusou as duas observações e manteve o texto, ressaltou que várias das mais altas expressões da nossa cultura vieram da mescla racial e relembrou de Gilberto Amado, que como argumento que não havia discriminação dizia "o mais carinhoso tratamento que se podia fazer a uma mulher era chamá-la de minha neguinha".
No dia 23 de outubro de 1962, o presidente Kennedy decidiu por conta própria, impor um bloqueio naval a Cuba, ordenando que 200 mil soldados ficassem de prontidão na Flórida. A crise que abalou o mundo começou na manhã do dia 14, quando chegaram à Casa Branca as fotos aéreas tiradas por uma missão de espionagem sobre Cuba, havia de 24 a 42 mísseis nucleares soviéticos apontados para Washington e Nova York, após pronunciamento de Kennedy, já pela tarde, o pânico era geral, as emissoras de rádio e TV, aconselhavam a comprar água.
Vasco Mariz, historiador, musicólogo, escritor e diplomata participava da 18° Assembléia Geral da ONU em Nova York, quando ocorre a crise dos mísseis. Ao sair do prédio da ONU, já era noite, a 1° Avenida de Nova York estava literalmente vazia, todos esperavam a bomba atômica russa chegar a qualquer momento, não haveria "até amanhã". Ao chegar no Hotel Blackstone, encontrou Gilberto Amado no hall, apavorado e falando sem cessar, que o convidou para tomar um drink em sua suíte, a espera de alguma notícia da bomba até de madrugada.
Entre 1961 e 1964 foi embaixador do Brasil em Washington, Roberto Campos, durante o governo João Goulart. Após passar no concurso do Itamaraty, foi nomeado cônsul de terceira classe em Washington, em 1939, participou da delegação brasileira na Conferência de Bretton Woods em 1944 que criou o FMI e o Banco Mundial. Quando jovem secretário da ONU nos anos 40, Roberto Campos achava engraçado ouvir Gilberto Amado dizer, "teria orgasmos de alegria quando encontrasse um brasileiro remotamente capaz de ligar causa e efeito". Apesar de sua inteligência e erudição, Roberto Campos exibia um arrogante pessimismo e ausência de tino político. Como dele dizia Gilberto Amado, o jovem secretário Campos, "é um bom rapaz, mas tem dois defeitos. Faltam-lhe qualidades cênicas e gosta muito de organizar o pensamento alheio."
Em 21 de novembro de 1962, ocorreu a famosa apresentação da Bossa Nova ao mercado internacional no Carnegie Hall, em Nova York com João Gilberto, Tom Jobim, Carlos Lyra, Roberto Menescal e Sérgio Mendes. O padrinho Jorge Amado experiente nessas coisas de mercado externo, vivia aconselhando João Gilberto, "Você já fez tudo aqui, tá na hora de ir embora". Ao acabar o show, João Gilberto convenceu-se de que Jorge Amado estava certo, já tinha feito tudo no Brasil. No começo de 1960, João Gilberto e Astrud Evangelina Weinert, se casaram em uma cerimônia rápida e simples no civil, num cartório em Copacabana, tendo Jorge Amado como padrinho.
João Gilberto, nascido em Juazeiro na Bahia, em 1931, cidade tão bem descrita liricamente por Jorge Amado em seu romance "Seara Vermelha", Astrud nasceu em Salvador e se mudou com os pais para Av. Atlântica em Copacabana. O casamento de João Gilberto com Astrud durou até 1964, quando João Gilberto casou com a Miúcha, irmã de Chico Buarque. João Gilberto podia trocar de mulher, mas seria fiel ao padrinho Jorge Amado que enviou um bilhete para o amigo Sérgio Buarque de Holanda, pai da Miúcha, dizendo que João Gilberto era meio louco como todo músico mas era um bom rapaz. Sérgio ficou sabendo pela imprensa e ficou contrariado, mas depois do bilhete do padrinho passou a aceitar o casamento.
TV Continental 
Em 1962, devido a sua amizade com Rubens Berardo dono da TV Continental do Rio de Janeiro, canal 9, Gilson Amado conquistou o horário das 22h30, para apresentar suas mesas redondas onde lançou a ideia da Universidade de Cultura Popular, idealizando uma TV Educativa no país. Gilson tornou-se o principal nome da TV Continental.
Na TV Continental até 1970 dirigiu programas educativos e apresentou seu programa de entrevistas, alguns com personalidades políticas e culturais tais como Juscelino Kubitschek, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga e Augusto Frederico Schmidt.
Quando o diretor-geral da emissora TV Continental era o Dr. Gilson Amado, as gravações eram no meio da tarde, suas falas sempre muito longas, Gilson gostava de fazer charme pro lado de umas protegidas no estúdio a espera dele acabar de falar. Sérgio Porto que gravava também a tarde a sua participação no famoso programa Jornal de Vanguarda exibido a noite, sempre aguardava impaciente Gilson Amado gravar, então bolou um plano, passou a cochichar com uma das protegidas de Gilson com muita intimidade. Naquele dia, Gilson gravou rapidinho e Sérgio Porto não teve que esperar quase nada.
O "Jornal de Vanguarda" foi criado em 1963 pelo jornalista Fernando Barbosa Lima. Participavam do programa grandes jornalistas como Villas-Bôas Corrêa, Newton Carlos, Cid Moreira, Millôr Fernandes, Borjalo e Fausto Wolf, com a decretação do AI-5, numa sexta-feira, 13 de dezembro de 1968, o "Jornal de Vanguarda" saiu do ar por decisão do criador. Sérgio Porto morreu meses antes, em sua memória um grupo de jornalistas fundou o Pasquim em 1969. Sobre a morte de Sérgio Porto, Gilberto Amado escreveu: "maior que Daninos na França e que Art Buchwald nos Estados Unidos. Seu gênio nos deu uma nova dimensão de nossa realidade." A TV Continental foi inaugurada em 1959 pelo deputado estadual Rubens Berardo, no início da década de 70 encerrou suas atividades por má gestão financeira tendo sua concessão cassada pelo presidente Médici.
Em 1963, Gilberto Amado é eleito para ABL. Havia tentado em 1914, mas sem sucesso, no ano seguinte, numa discussão banal com o poeta Aníbal Teófilo, Gilberto Amado saca a pistola e assassina o poeta. Esperou quase 50 anos para se candidatar novamente, foi absolvido na justiça, mas jamais na opinião pública enquanto durou a memória do acontecimento. Foi o quinto ocupante da Cadeira 26, eleito em 3 de outubro de 1963, na sucessão de Ribeiro Couto.
Recém-eleito para ABL, Gilberto Amado é homenageado em almoço oferecido por Adolpho Bloch, no novo parque gráfico da revista Manchete em Parada de Lucas, o maior da América Latina. Adolpho Bloch, imigrante ucraniano fugido da Revolução Russa, lançou a revista Manchete em 1952 e inovou na parte gráfica superando em pouco tempo a revista "O Cruzeiro" de Assis Chateaubriand. Neste almoço Gilberto conhece o jovem cronista do Jornal do Brasil, Carlinhos Oliveira e dispara: "Você é o maior escritor brasileiro, depois de Gilberto Amado, mas devia cortar o cabelo, raspar a barba, não precisa andar desse jeito, devia andar mais bem vestido". Carlinhos riu e continuou desleixado.
Em 25 de janeiro de 1964, Floriano Amado foi promovido por merecimento a General de Brigada. Em 31 de março de 1964, dá-se a insurreição armada que resultaria em 21 anos de ditadura militar. No dia 22 de abril, Carlos Lacerda, governador da Guanabara, conhecido como "demolidor de presidendes", embarca no Galeão para Paris, onde seria recebido no restaurante do aeroporto de Orly por um grupo de conterrâneos que se achavam na cidade, entre eles o escritor e ex-embaixador Gilberto Amado. O restaurante foi invadido por repórteres de órgãos prestigiosos da imprensa e televisão de toda Europa, querendo saber sobre a queda de Goulart. Lacerda enfrentou um batalhão de microfones de rádio e tv, que desfecharam fogo de perguntas sobre a "dominação dos generais" e o "golpe fascista" para proteger os interesses norte-americanos, interesses petrolíferos.
As perguntas levaram Lacerda a romper o silêncio, falando em francês, deu o mais belo show de inteligência e coragem. A imprensa parisiense inteiramente pró-Goulart e decidida a travar luta contra Lacerda, reagiu violentamente contra a entrevista. Gilberto Amado disse aos jornalistas franceses que o seu grande erro, fora ignorar que Carlos Lacerda era um dos homens mais brilhantes e inteligentes do Brasil. A entrevista causou um estardalhaço, que irritou o general De Gaulle, sendo o Itamaraty indagado se Lacerda se pronunciara como representante oficial do Brasil. No Rio de Janeiro, Lacerdistas protestaram contra o Le Monde em frente ao consulado francês.
A posse de Gilberto Amado na ABL, ficou marcada para o dia 29 de agosto de 1964, com a presença do presidente da República, marechal Humberto Castelo Branco. O escritor foi recebido pelo acadêmico, amigo e poeta Alceu Amoroso Lima, que em discurso na Academia Brasileira de Letras, o chamou de "o mais universal dos nossos escritores" e "o maior de nossos memorialistas". Em carta de Ana Guilhermina, esposa de Afonso Arinos de Melo Franco, ao filho diplomata, Afonso Arinos, filho, no exterior, descreve a posse que compareceu com o marido, com espírito crítico: "O discurso de Gilberto Amado não foi dos melhores, aquela mesma falação desordenada, sem acabar direito as frases que não eram lidas, e sem entender bem a poesia do Couto, o que ele próprio confessou. Além disso, como era de se esperar, bajulando o Castelo Branco, presente na cerimônia, falando na FEB, nos militares, no Ceará etc... O discurso do Alceu muito bem-feito, muito trabalhado, muito vivo, mas representou um pouco demais, parecia um ator".
Nas fotos Gilberto Amado em dois momentos em 1914 com 27 anos com dedicatória pedindo voto para ABL ao amigo e acadêmico Félix Pacheco, jornalista e político, e em 1964, 50 anos depois com o fardão da Academia Brasileira de Letras.
Félix Pacheco era do Piauí e chegou ao Rio de Janeiro em 1890 onde um tio era senador da República. Formado em Direito, ingressou no jornalismo, sendo sócio no Jornal do Comércio, onde Gilberto Amado iniciou em 1910 sua colaboração na imprensa do Rio de Janeiro, se tornando amigo de Félix Pacheco. Félix Pacheco foi pioneiro defensor da introdução no Brasil do método de identificação pelas impressões digitais.
Gilberto Amado, polemista desde o princípio, chamado por Nelson Rodrigues, de "o profeta", no banquete de 80 anos, em 1967, Amado dizia "não acreditem na amizade entre os povos. Nenhum povo é amigo de outro povo". Segundo Nelson Rodrigues os presentes sentiram toda a embriaguez do óbvio sendo mais uma vez profético. No banquete os oradores vão dizer tudo, menos o que importa, que Gilberto ama, merecida essa homenagem e outras, um brasileiro que chega aos oitenta anos, mais velho que o século, para Nelson Rodrigues, Gilberto ama por todo um povo.
Em 1967, Gilson Amado foi eleito o primeiro presidente da Fundação Centro Brasileiro de TV Educativa. De início, um pequeno estúdio em um prédio no bairro de Copacabana produzia os programas educativos que seriam veiculados para redes de televisão comerciais, que por lei garantia a exibição da programação educativa. Através do Ministério da Educação, Gilson Amado conseguiu a verba para adquirir, um enorme teatro, na av Gomes Freire, na Lapa e os equipamentos para a instalação da TV foram adquiridos na Alemanha em 1972.
Gilberto Amado nasceu em 1887 na cidade de Estância, Sergipe. Muito novo se tornou professor de direito na Faculdade do Recife, em 1910 foi para o Rio de Janeiro trabalhar no Jornal do Comércio, foi eleito deputado federal e depois senador encerrando a carreira política com a Revolução de 30. Convidado por Getúlio para ser embaixador do Brasil passou pela Finlândia e Chile. Após a Segunda Guerra assumiria o que se tornou sua atuação definitiva como membro da Comissão do Direito Internacional entre Países sediada em Genebra, se tornando uma lenda entre as futuras gerações de diplomatas do Itamaraty.
Gilberto Amado se tornou uma das personalidades mais marcantes e controvertidas da vida intelectual, política e diplomática do Brasil no século XX. Segundo o historiador Ariosvaldo Figueiredo, em sua obra História Política de Sergipe, descreve Gilberto Amado, como uma pessoa de personalidade odienta, não obstante era, na verdade, uma pessoa de pavio curto. De família simples do interior do Sergipe, primogênito de Donana, mais novo que a mãe apenas 16 anos, filho de Melchisedech Amado, chefe político e comerciante de açúcar em Itaporanga, Gilberto Amado se tornou "Glória da Inteligência do Brasil". Gilberto Amado pode ter saído de Sergipe, mas Sergipe nunca saiu dele, como ele mesmo disse, "se sergipano nasci, sergipano hei de morrer". No final do dia 27 de agosto de 1969, Gilberto Amado chamou, ao entardecer, sua governanta e lhe pediu um chá: “Faça-me um saboroso chá que hoje eu vou morrer!” A doméstica do velho embaixador comentou “o embaixador tem cada uma”. Meia hora depois, já servido o chá a governanta constatou espantada e aos gritos que o embaixador acertara em sua profecia…
O escritor pernambucano de Nazaré da Mata, Mauro Mota é eleito na ABL em 8 de janeiro de 1970 para o lugar de Gilberto Amado. Nascido em 1911, jornalista como Gilberto Amado, Mauro Mota também trabalhou no Diário de Pernambuco, onde foi diretor. No Diário abriu as páginas do "Suplemento Literário" em apoio aos novos escritores, como Marcos Vinícius Vilaça, também nascido em Nazaré da Mata em 1939, que se tornou seu discípulo e José Sarney. No dia de sua posse na ABL, em 27 de agosto de 1970, Mauro Mota disse a Vilaça "quero te ver aqui". Sarney em 1947, com 17 anos chegou a Recife para participar do salão da poesia com carta de recomendação de Bandeira Tribuzi para Mauro Mota, que dirigia o suplemento literário do Diario de Pernambuco, onde Sarney passou a colaborar, então ficaram amigos de toda a vida, de carta e conversa. Marcos Vilaça passou a desejar pertencer a ABL, nunca no lugar do amigo, queria apenas o seu voto, mas o destino lhe reservou em 1985, a cadeira 26, de Ribeiro Couto, de Gilberto Amado e de Mauro Mota. Marcos Vilaça faleceu no domingo, 30 de março de 2025, em Recife. Próximo a Sarney, Vilaça foi indicado ministro do TCU pelo ex-presidente que lamentou a morte do amigo "uma das maiores personalidades presentes na vida cultural, educacional e defensor dos direitos sociais do Brasil".
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